Leitura de História

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A Ascensão e a Queda dos Cavaleiros Templários

Os Cavaleiros Templários são uma das ordens militares mais icônicas da Idade Média. Fundada em Jerusalém por volta de 1119 e 1120, a ordem rapidamente se destacou pela bravura e disciplina de seus membros, além de seu compromisso em proteger os peregrinos cristãos e os territórios conquistados durante as Cruzadas. Com o tempo, os Templários se transformaram em uma organização global, altamente lucrativa e com um poder político significativo na Europa e no Oriente Médio.

No entanto, essa história de sucesso começou a declinar no final do século XIII e início do século XIV. Em 1291, os Estados cruzados sofreram um golpe devastador com a captura de Acre pelas forças mamelucas do Egito. O Reino de Jerusalém foi realocado para Chipre, junto com alguns membros remanescentes dos Templários. Esse evento marcou o início de uma era de incertezas e questionamentos sobre o papel e a eficácia das ordens militares.

A partir de 1291, a culpa pela perda dos territórios cruzados foi, em grande parte, dirigida aos Templários e aos Hospitaleiros, outra importante ordem militar. Essas organizações tinham o dever de proteger os Estados cruzados e, com sua falha, surgiram apelos por reformas e reorganizações das ordens militares, incluindo a ideia de fundi-las em uma única superordem.

Filipe IV da França precisava desesperadamente de dinheiro.
Filipe IV da França precisava desesperadamente de dinheiro.

O Cenário Político na França

Por volta de 1306, a situação dos Templários começou a se complicar devido a fatores políticos e econômicos na França. O país era o coração da ordem, sendo o principal território de recrutamento e a base de operações financeiras dos Templários. A relação entre os Templários e a coroa francesa era, até então, mutuamente benéfica. Eles haviam resgatado reis franceses capturados durante as cruzadas, salvo exércitos franceses e gerir a tesouraria da coroa por mais de um século.

Contudo, o rei Filipe IV da França tinha outros planos. Envolvido em conflitos contínuos com o papado, especialmente com o papa Bonifácio VIII, Filipe buscava desesperadamente recursos para financiar suas guerras contra Aragão e Flandres, além de enfrentar uma escassez de prata na Europa, o que dificultava a cunhagem de moedas.

A Perseguição aos Templários

Em 1306, Filipe decidiu expulsar os judeus da França e confiscar seus bens, mas isso ainda não solucionou seus problemas financeiros. Ele então voltou seus olhos para os Templários, que possuíam vastas riquezas em terras e moedas. Filipe sabia da impopularidade crescente da ordem e da vulnerabilidade política dos Templários após a perda dos Estados cruzados.

Na sexta-feira, 13 de outubro de 1307, sob ordens de Filipe, as autoridades francesas realizaram uma operação coordenada para prender todos os Templários no país. As acusações incluíam heresia, sodomia e outros comportamentos chocantes para a moralidade medieval, como cuspir na cruz e realizar beijos ilícitos em cerimônias secretas. Sob tortura, muitos membros da ordem confessaram esses crimes, proporcionando “provas” para justificar as ações do rei.

A Reação Internacional

A reação dos outros governantes ocidentais ao ataque de Filipe foi de surpresa e ceticismo. Eduardo II da Inglaterra, por exemplo, embora fosse genro de Filipe, não conseguia acreditar na gravidade das acusações. A maioria dos governantes europeus estava perplexa com as ações do rei francês e questionava suas verdadeiras motivações.

O papa Clemente V, embora politicamente subordinado a Filipe, tentou intervir e assumiu a investigação sobre os Templários. Ele transferiu o processo para outros países, onde a tortura não era comum, o que resultou em confissões muito menos frequentes e convincentes. Na Inglaterra, por exemplo, os inquisidores não encontraram evidências substanciais de crimes entre os Templários locais.

O Fim dos Templários

Apesar das tentativas de Clemente V de conduzir uma investigação mais justa, em 1312, um conselho da igreja em Vienne, influenciado pela presença militar de Filipe, decidiu dissolver a ordem dos Templários. Suas propriedades foram transferidas para os Hospitaleiros, e muitos de seus membros foram executados ou presos.

O ataque de Filipe aos Templários não resultou nos ganhos financeiros esperados. Embora ele tenha conseguido obter algum tesouro da ordem em Paris, a maior parte das terras dos Templários foi concedida aos Hospitaleiros. Assim, a destruição da ordem foi, em muitos aspectos, um movimento fútil e trágico, marcado pela ganância e pela manipulação política.

A queda dos Templários é um exemplo claro de como a política, a economia e a religião se entrelaçavam de maneira complexa na Idade Média. A ordem, que inicialmente era uma força poderosa e respeitada, acabou sucumbindo às intrigas e aos interesses de um monarca desesperado. A história dos Templários nos lembra das vulnerabilidades inerentes ao poder e da rapidez com que a fortuna pode mudar, mesmo para as instituições mais fortes e influentes.

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