Leitura de História

A Rivalidade Fatal: Edmund Beaufort, Duque de Somerset e Richard, Duque de York nas Guerras das Rosas

A rivalidade entre Edmund Beaufort, Duque de Somerset, e Richard, Duque de York, foi uma das faíscas que acendeu o fogo das Guerras das Rosas, um dos conflitos mais complexos e sangrentos da história inglesa. Esta disputa não apenas marcou o fim da dinastia Plantageneta, mas também pavimentou o caminho para o surgimento da dinastia Tudor. Para entender como esses dois homens contribuíram para a eclosão de uma guerra civil que alteraria para sempre o curso da história da Inglaterra, é essencial explorar suas origens, ações e os eventos que precipitaram o conflito.

A Ascensão de Edmund Beaufort e a Legitimidade da Casa de Beaufort

Edmund Beaufort, o 2º Duque de Somerset, nasceu por volta de 1406, neto de John de Gaunt, Duque de Lancaster, e sua terceira esposa, Katherine Swynford. John de Gaunt, um dos mais poderosos nobres de sua época, teve uma relação amorosa com Katherine Swynford, resultando em quatro filhos ilegítimos. Após seu casamento com Katherine, esses filhos foram legitimados, embora não fossem oficialmente barrados da sucessão ao trono. A Casa de Beaufort, portanto, estava em uma posição intrigante, tendo conexões poderosas com a dinastia Lancaster, mas sem um título claro ao trono.

O pai de Edmund, John, era o mais velho dos filhos legitimados de Gaunt e Swynford, e suas fortunas estavam intimamente ligadas às da Casa de Lancaster. A ascendência de Edmund ao título de Duque de Somerset foi um reflexo das suas conexões poderosas, e ele se tornou um defensor ardente da causa Lancastriana. No entanto, sua relação com a Casa de Lancaster também o colocou em uma posição de rivalidade direta com Richard, Duque de York.

Richard, Duque de York: A Luta pela Supremacia

Richard, Duque de York, também descendia da poderosa dinastia Plantageneta, sendo bisneto do rei Eduardo III. Em uma Inglaterra onde Henrique VI, o rei da época, permanecia sem um herdeiro masculino, a questão da sucessão era um campo fértil para disputas. Richard e Edmond, como bisnetos de Eduardo III, se encontraram em lados opostos desta disputa dinástica.

Durante o período de 1436 a 1445, Richard serviu como Tenente-General na França, um papel crucial na manutenção das possessões inglesas no continente. Seu primeiro mandato foi relativamente tranquilo, mas seu segundo mandato foi marcado por dificuldades crescentes. Richard financiou grande parte do esforço militar pessoalmente e ficou descontente ao ver que Edmund e seu irmão mais velho, John, receberam recursos e apoio para campanhas na França. A frustração de Richard foi exacerbada pelo fracasso das campanhas, culminando na morte de John e na desaprovação generalizada das ações de Somerset.

Em dezembro de 1445, quando Richard retornou à Inglaterra, esperava ser reinstalado em sua posição. No entanto, a corte de Henrique VI, sob influência de Edmund Beaufort, o privou dessa posição, transferindo-o para o cargo de Lorde Tenente da Irlanda. Richard suspeitava que essa troca era uma manobra para enfraquecer sua influência e privilegiar a facção de Somerset.

A Crise na França e o Desafios de Somerset

O cenário político e militar se tornou ainda mais complicado com a ascensão de Carlos VII na França. O rei francês estava reconstruindo suas forças e se preparando para reverter as perdas infligidas pelos ingleses. Henrique VI, que preferia uma política de paz, casou-se com Margarida de Anjou, prometendo devolver Maine e Anjou à França. Edmund Beaufort, então Conde de Mortain, recebeu o controle do Maine como parte de um acordo para suavizar a aceitação da perda desse território.

No entanto, Edmund encontrou dificuldades em sua missão. Sua abordagem em relação à França, incluindo uma série de ações que foram percebidas como provocativas, acabou por reabrir as hostilidades. A recusa dos arautos franceses em entregar suas cartas devido ao estilo depreciativo usado por Edmund ilustra a crescente tensão entre as duas nações.

A Ascensão de Somerset na Corte Inglesa

Após o retorno de Edmund à Inglaterra, a situação política estava em ebulição. A Rebelião de Cade, um levante popular contra a corrupção e a administração do governo, abalou o país, e o Duque de Suffolk, conselheiro principal de Henrique VI, foi assassinado. Apesar dos fracassos de Edmund na França, ele conseguiu se posicionar como o favorito do rei, um fato que levantou muitas dúvidas e rancores entre os nobres, especialmente Richard, Duque de York.

A Rivalidade Crescente e o Conflito Aberto

O confronto direto entre Somerset e York começou a tomar forma quando York retornou à Inglaterra e encontrou a corte dominada pela facção de Somerset. Em fevereiro de 1452, York tentou angariar apoio ao longo da fronteira galesa e acusou Edmund Beaufort de fomentar uma campanha contra ele na corte. Esta ação culminou em uma demonstração de força em Dartford, onde York exigiu a prisão e julgamento de Somerset por traição. Embora o rei Henrique VI tenha concordado com York, Somerset permaneceu em uma posição de influência, o que gerou uma amarga rivalidade.

A tensão atingiu seu clímax quando, em 1453, Henrique VI adoeceu e York foi nomeado Protetor do Reino. Nesse período, ele prendeu Somerset, mas não o julgou nem executou. A recuperação do rei no Natal de 1455 trouxe novas reviravoltas. Henrique demitiu York, desfazendo suas reformas e restabelecendo Somerset.

A Primeira Batalha de St Albans e o Início das Guerras das Rosas

A Primeira Batalha de St Albans, em 22 de maio de 1455, marcou um ponto crucial na escalada do conflito. Em um confronto direto entre as forças de York e as do rei, as tropas yorkistas invadiram St Albans e saíram vitoriosas. Edmund Beaufort, que lutava corajosamente, foi morto na batalha. A lenda afirma que ele cumpriu uma profecia de sua morte sob um castelo, uma narrativa que adiciona um toque dramático à sua história.

Embora St Albans tenha sido inicialmente uma disputa pessoal entre York e Somerset, o resultado teve implicações mais amplas para o futuro da Inglaterra. O ciclo de vingança e retaliação que se seguiu, incluindo a Batalha de Wakefield em 1460, estabeleceu um padrão de violência que moldou o curso das Guerras das Rosas.

O cronista francês Basin descreveu Edmund Beaufort como um homem de boas maneiras e aparência, mas com uma ganância insaciável. Sua ascensão e queda exemplificam as complexidades das alianças e rivalidades que definiram o período. A amarga rivalidade entre Somerset e York não apenas contribuiu para o colapso da dinastia Plantageneta, mas também abriu o caminho para a ascensão dos Tudors, alterando para sempre o panorama político da Inglaterra.

Em resumo, a rivalidade entre Edmund Beaufort e Richard, Duque de York, foi um dos fatores decisivos que levaram à eclosão das Guerras das Rosas. As ações e alianças desses dois homens desempenharam um papel crucial na mudança da dinastia real e na formação da nova ordem política na Inglaterra. A complexidade de suas interações, a influência de suas ações e a consequente guerra civil refletem a profundidade e a turbulência do período, moldando a história inglesa de maneira indelével.