A Casa de Montfort, originária de uma pequena localidade a cerca de 50 quilômetros a oeste de Paris, atualmente conhecida como Montfort l’Amaury, é lembrada principalmente por dois personagens proeminentes do século XIII: Simon de Montfort, o cruzado implacável contra os albigensianos, e seu filho Simon IV, o notório revolucionário inglês. No entanto, a história das mulheres da dinastia Montfort, embora menos conhecida, é igualmente fascinante e revela uma influência significativa na política e na sociedade medieval.
O Legado de Isabella e Bertrade
A influência das mulheres de Montfort remonta ao século XI, começando com Isabella de Montfort. Ela se destacou não apenas como uma figura de destaque em sua época, mas também como uma guerreira ativa. Quando seus irmãos caíram em desgraça, Isabella vestiu armadura e liderou uma tropa de cavaleiros no campo de batalha contra eles, demonstrando coragem e habilidade militar raras para uma mulher da época. Sua determinação e bravura ajudaram a moldar o legado de sua família.
Sua irmã Bertrade de Montfort seguiu um caminho muito diferente, mas igualmente notável. Insatisfeita com a vida ao lado de seu marido, Bertrade se envolveu em um escândalo que abalaria a corte francesa. Ela fugiu com o rei Filipe I da França, que posteriormente se divorciou de sua esposa para se casar com ela. No entanto, Bertrade não parou por aí. Na tentativa de garantir que seu filho assumisse o trono em detrimento de seu enteado, ela tentou envenenar a criança mais velha. Embora sua tentativa tenha falhado e resultado em sua desgraça, sua história ilustra o nível de ambição e determinação presente nas mulheres de Montfort. Bertrade morreu em um convento em 1117, após ver sua influência política se desvanecer.
Mulheres de Montfort no Contexto das Cruzadas e da Igreja
Avançando duas gerações, encontramos Simon III de Montfort, que se destacou ao apoiar os ingleses em sua luta contra os franceses. Em reconhecimento aos seus serviços, seus filhos casaram-se com membros da nobreza anglo-normanda, fortalecendo ainda mais os laços da família com a aristocracia inglesa. Sua filha, Bertrade II, casou-se com o conde de Chester e tornou-se mãe do lendário Ranulf de Blondeville, considerado um dos últimos grandes barões anglo-normandos.
Simon IV de Montfort, filho de Simon III, casou-se com Amicia de Leicester. Seu filho, Simon V, notável cruzado contra os hereges albigensianos, foi acompanhado por sua esposa Alice de Montfort, que participou ativamente dos conselhos de guerra e das campanhas. Alice deu à luz a filha Petronilla durante a cruzada, que foi batizada pelo famoso dominicano Dominic de Guzman. Após a morte de Simon IV em 1218, Alice colocou Petronilla em um convento, onde ela eventualmente se tornou abadessa. A filha mais velha de Alice, Amicia II, fundou o convento de Montargis, ao sul de Paris, e morreu lá em 1252, perpetuando o legado religioso da família.
A Influência de Montfort na Inglaterra
O filho de Amicia de Leicester, Simon de Montfort, tornou-se uma figura central na Inglaterra, herdando o condado de Leicester. Embora seu condado tenha sido confiscado pelo rei João em 1207, seu filho, Simon VI, conseguiu recuperá-lo em 1231. Apesar de ter nascido e criado na França, Simon VI tornou-se um nobre inglês, em grande parte devido à influência de sua avó inglesa, Amicia.
Simon VI casou-se com Eleanor, irmã mais nova do rei Henrique III, e juntos tiveram cinco filhos e uma filha. O relacionamento de Simon com o rei Henrique III culminou em um conflito civil, resultando na famosa Batalha de Evesham em 1265, onde Simon de Montfort foi morto. Após sua morte, Eleanor de Montfort retornou à França, estabelecendo-se em Montargis com sua filha, também chamada Eleanor.
O Destino das Mulheres de Montfort na Itália e País de Gales
Entre os filhos de Eleanor, Guy de Montfort se destacou ao encontrar serviço sob o rei da Sicília. Ele rapidamente avançou para se tornar conde de Nola e casou-se com uma herdeira, gerando duas filhas. Apenas a mais jovem, Anastasia, sobreviveu até a idade adulta. Anastasia se tornou condessa de Nola após a morte de seu pai em 1292 e casou-se com a família senatorial Orsini de Roma, continuando a tradição da família Montfort na Itália.
Eleanor de Montfort, que morreu em 1275, viu sua filha se casar com Llywelyn por Gruffydd, o Príncipe de Gales, por procuração. No entanto, sua travessia para o País de Gales não foi sem dificuldades. O barco que transportava a jovem Eleanor foi capturado pelo rei Eduardo I, que havia sido informado sobre as intenções de sua prima. Eleanor foi mantida em cativeiro no Castelo de Windsor até 1278, quando finalmente pôde se casar com Llywelyn. Sua morte ocorreu quatro anos depois, ao dar à luz a filha Gwenllian. Gwenllian foi colocada em um convento em Lincolnshire após a morte de Llywelyn e a família Montfort parecia ter se extinguido, deixando uma marca duradoura na história.
O Renascimento das Fortunas de Montfort
Apesar do aparente fim da família Montfort, sua história ressurgiu com Yolande de Dreux, uma figura proeminente que se casou com Artur II da Bretanha. Seu neto, João, após derrotar seus primos, tornou-se duque da Bretanha em 1365, restaurando a influência da família na região. Em 1386, João casou-se com Joana de Navarra, uma figura notável que se tornou rainha da Inglaterra através de seu casamento com o rei Henrique IV.
Assim, as mulheres de Montfort, muitas vezes ofuscadas pelos feitos dos homens da família, desempenharam papéis cruciais na configuração da história medieval, não apenas em suas próprias terras, mas também através das alianças e intrigas que se espalharam por toda a Europa.
A história das mulheres da dinastia Montfort é uma rica tapeçaria de coragem, ambição e influência que moldou a política e a sociedade medieval de maneira notável. Seu legado, embora muitas vezes esquecido, continua a inspirar e a fascinar estudiosos e entusiastas da história.