Philippa de Hainault, esposa do monarca Plantagenet mais antigo, rei Eduardo III, é lembrada como uma das rainhas mais amadas e respeitadas da Inglaterra medieval. Conhecida por sua lealdade, devoção e papel significativo na política, Philippa não apenas desempenhou as funções tradicionais de esposa e mãe, mas também se destacou como conselheira e influência política crucial ao lado de seu marido. Sua vida e legado oferecem um vislumbre fascinante do papel das rainhas medievais e da política na Inglaterra do século XIV.
- Origens e Linhagem: Uma Princesa Europeia
Nascida por volta de fevereiro ou março de 1314, Philippa veio ao mundo na região que hoje corresponde à Bélgica. Seu pai, Willem, era conde de Hainaut, além de governar a Holanda e a Zelândia, regiões que hoje fazem parte da Holanda moderna. Sua mãe, Joana de Valois, era uma figura de destaque na nobreza francesa, sendo neta do rei Filipe III da França, sobrinha de Filipe IV e irmã de Filipe VI. A importância de sua linhagem não pode ser subestimada, pois ela conectava Philippa a algumas das mais influentes famílias reais da Europa.
- Variedade no Nome e Identidade
O nome de Philippa era escrito de várias formas ao longo de sua vida, refletindo a flexibilidade dos nomes medievais. Ela era conhecida como Philippe, Phelip ou Phelipe, um nome unissex que era utilizado tanto para homens quanto para mulheres. Em suas próprias cartas, ela se referia a si mesma como “Philippe, pela graça de Deus, rainha da Inglaterra, senhora da Irlanda e duquesa da Aquitânia”. Essa diversidade na forma de seu nome é um indicativo das normas e variações linguísticas da época.
- Uma Família Numerosa
Philippa era a terceira filha do conde Willem e tinha duas irmãs mais velhas, Margareta e Johanna. A cronista Jean Froissart relatou que Philippa tinha “quase quatorze anos” em janeiro de 1328, o que sugere que seu nascimento ocorreu entre fevereiro e março de 1314. Sua família era extensa, com oito ou nove irmãos completos e pelo menos oito meios-irmãos resultantes das relações de seu pai fora do casamento. Sua irmã mais velha Margaret casou-se com Ludwig da Baviera, rei da Alemanha e da Itália, e ambos foram coroados Sacro Imperador Romano-Germânico e Imperatriz em Roma em 1328.
- O Casamento e a Realidade das Alianças Políticas
Embora o casamento de Philippa com Eduardo III tenha sido frequentemente romantizado, a realidade era bem diferente. O noivado entre Philippa e Eduardo foi arranjado principalmente por interesses políticos e estratégicos. Em agosto de 1326, quando o noivado foi formalizado, Philippa tinha apenas 12 anos, enquanto Eduardo tinha 13. O casamento foi resultado de manobras políticas e negociações, incluindo a necessidade de sua mãe, Isabel da França, de assegurar uma aliança para apoiar sua invasão ao reino do marido. Assim, a ideia de que Eduardo escolheu Philippa por amor, ao invés de suas irmãs, é um mito moderno.
- Relações Familiares e Casamento
Philippa e Eduardo III casaram-se em York em janeiro de 1328, um mês após a morte de Eduardo II, o pai deposto de Eduardo III. A cerimônia foi conduzida pelo arcebispo de York, William Melton. Em um gesto que simbolizava a importância cultural e intelectual da época, Philippa presenteou Eduardo com dois manuscritos iluminados. Embora o casamento tenha sido arranjado por razões políticas, Philippa e Eduardo desenvolveram uma relação que, em muitos aspectos, refletiu uma parceria sólida e produtiva.
- Um Modelo de Rainha Medieval
Philippa demonstrou ser um modelo exemplar de rainha medieval. Sua lealdade e devoção ao marido, aliadas ao seu papel de mãe de doze filhos, foram amplamente reconhecidas e admiradas. Além de suas responsabilidades domésticas, Philippa utilizou sua posição para influenciar a política. Ela foi uma regente eficaz em 1346 e, notavelmente, conseguiu negociar a clemência para os burgueses de Calais, o que a destacou como uma figura de compaixão e diplomacia. Sua habilidade em navegar entre as esferas da política e da realeza a tornou uma figura central no governo de Eduardo III.
- Apoio às Ambições de Eduardo III
O reinado de Filipe VI da França, tio materno de Philippa, trouxe desafios significativos para Eduardo III, que reivindicou o trono francês em 1337. Philippa apoiou entusiasticamente essa causa, demonstrando seu compromisso com as ambições de seu marido. Ela enviou espiões à corte francesa e usou sua influência para enfraquecer a posição de Filipe VI, a quem ela desdenhava ao chamá-lo de ‘Senhor Philippe de Valois’. Essa ação sublinha o papel ativo de Philippa nas questões políticas e militares da época.
- Maternidade e Legado
Philippa deu à luz 12 filhos, dos quais apenas seis sobreviveram até a idade adulta e quatro viveram após a morte de sua mãe. Seus filhos incluíam figuras notáveis, como Isabella de Woodstock, condessa de Bedford e Soissons, que teve uma vida adulta produtiva. A morte de Philippa em 15 de agosto de 1369 foi marcada por um longo atraso no sepultamento, que só ocorreu em 9 de janeiro de 1370, um fenômeno comum na época. Embora seu estado de saúde tenha se deteriorado após uma grave lesão em 1360, Philippa manteve uma influência considerável até sua morte.
- Estilo de Vida e Gastos
Philippa era conhecida por seu gosto extravagante por roupas e joias, um traço distintivo da realeza do século XIV. Apesar de sua grande renda, ela acumulou dívidas significativas, que em 1360 totalizavam mais de £5.000 — uma quantia que equivaleria a cerca de £10 milhões nos padrões atuais. Esse estilo de vida opulento refletia as normas da época, mas também revelou as tensões e desafios financeiros enfrentados pela nobreza.
- O Enterro e Legado Duradouro
Após sua morte, Philippa foi enterrada na Abadia de Westminster ao lado de seu marido, Eduardo III, em julho de 1377. Seu túmulo, adornado com uma efígie que retrata uma figura gentil e bem desenvolvida, ainda é um testemunho de sua importância e legado. Philippa de Hainault permanece uma figura fascinante da história medieval, cuja vida e influência continuam a ser estudadas e admiradas.
Ao revisitar a vida e o impacto de Philippa de Hainault, podemos apreciar não apenas sua contribuição individual, mas também a complexidade das alianças políticas e das dinâmicas de poder na Inglaterra medieval. Seu papel como rainha, conselheira e figura materna oferece um exemplo claro das responsabilidades e desafios enfrentados pelas mulheres na nobreza medieval. Assim, a história de Philippa é uma rica tapeçaria de política, lealdade e legado que ainda ressoa na narrativa histórica da Inglaterra.