O mistério da verdadeira origem de Cristóvão Colombo, figura central na história mundial, continua a instigar debates entre historiadores.
Recentemente, um estudo genético realizado por cientistas espanhois trouxe uma revelação intrigante: o famoso explorador pode não ter nascido em Gênova, Itália, como tradicionalmente se acredita, mas sim em Valência, Espanha, com ascendência judaica.
Esta descoberta lança uma nova luz sobre a vida e identidade de Colombo, especialmente no contexto das perseguições religiosas da época.
Para compreendermos melhor essa reviravolta histórica, é importante lembrar que Colombo é amplamente lembrado por sua viagem de 1492, que resultou no contato europeu com as Américas e alterou profundamente o curso da história. Contudo, menos explorado é o enigma de sua própria origem. Por séculos, historiadores têm discutido sobre onde Colombo nasceu, com teorias que vão desde a Itália até Portugal, passando por Grécia, Hungria e até mesmo Polônia. Agora, o novo estudo de DNA reacende o debate e apresenta um argumento robusto para sua origem espanhola.
A pesquisa de DNA e sua metodologia
O estudo genético que questiona a origem de Colombo não é fruto de um esforço recente. José Antonio Lorente, professor de Medicina Legal na Universidade de Granada, juntamente com o historiador Marcial Castro, iniciou a investigação em 2003.
Para isso, foram exumados restos mortais atribuídos a Colombo, sepultados na Catedral de Sevilha. Essas amostras de DNA foram comparadas com material genético de seu filho Hernando e de seu irmão Diego. Os cientistas esperavam, com essa análise, desvendar um mistério secular.
A pesquisa de DNA trouxe uma descoberta surpreendente: a análise genética indicava que Colombo teria nascido na Europa Ocidental, possivelmente na cidade de Valência.
Essa informação, por si só, já desafia a versão histórica tradicional de que Colombo seria de origem genovesa, uma tese defendida por muitos estudiosos. Além disso, o estudo indicou que Colombo possuía ascendência judaica, uma informação que altera ainda mais a narrativa histórica.
O contexto das perseguições religiosas
No final do século XV, a Espanha vivia um período de intensa perseguição religiosa, que culminou com a expulsão dos judeus e muçulmanos que não se converteram ao cristianismo.
Esse contexto de intolerância religiosa pode ajudar a explicar por que Colombo teria ocultado sua origem judaica. Segundo os pesquisadores, é possível que Colombo tenha se convertido ao catolicismo ou, no mínimo, escondido sua ascendência para evitar perseguição. Afinal, a Inquisição espanhola estava no auge, e os judeus eram frequentemente alvo de violência e discriminação.
Ao considerar a possibilidade de Colombo ter origem judaica, surge também a reflexão sobre como isso teria influenciado sua trajetória. Embora a História tenha eternizado Colombo como um explorador destemido e visionário, sua vida pessoal, especialmente em relação à sua fé e identidade, permanece envolta em mistério. A revelação de uma possível ascendência judaica adiciona uma camada complexa à sua biografia, sugerindo que ele, assim como tantos outros de sua época, viveu sob a sombra da perseguição religiosa.
Implicações para o legado de Colombo
A chegada de Colombo às Américas em 1492 marcou o início de um processo de colonização brutal, que resultou na dizimação de povos indígenas e na escravização de milhões de africanos.
O impacto desse evento é amplamente discutido, mas sua figura como navegador e explorador também é frequentemente questionada. Agora, com a nova hipótese de que Colombo era judeu e espanhol, essa narrativa ganha uma nova dimensão.
É curioso pensar que Colombo, o homem que abriu caminho para a expansão de impérios coloniais europeus, pode ter sido alguém que fugia da intolerância e da violência religiosa em sua terra natal. Assim, sua jornada pelo Atlântico pode ter sido, além de uma busca por novos territórios, também uma fuga pessoal em busca de segurança e estabilidade. Se confirmado, isso traria uma profunda ironia histórica: o homem que, involuntariamente, iniciou um período de perseguições e mortes nas Américas, talvez estivesse, ele mesmo, fugindo da perseguição em solo europeu.
Além disso, esse novo estudo coloca em perspectiva o debate sobre identidade e pertencimento, questões centrais no entendimento das figuras históricas. Colombo, por séculos, foi reivindicado por diferentes nações, com cada uma tentando situá-lo dentro de suas próprias narrativas nacionais. A revelação de que ele pode ter nascido na Espanha e ter raízes judaicas desafia essas tentativas de apropriação e reafirma a complexidade das identidades históricas.
Um estudo que levanta novas questões
Embora os resultados do estudo sejam impressionantes, eles não encerram a questão sobre as origens de Colombo. Como o próprio professor José Antonio Lorente disse ao anunciar os resultados no documentário Columbus DNA: His True Origin (Colombo DNA: Sua Verdadeira Origem), as conclusões são “quase absolutamente confiáveis”. Isso indica que ainda há margem para dúvidas e que mais pesquisas são necessárias.
Entretanto, o estudo já se coloca como um divisor de águas na historiografia sobre Colombo, desafiando a versão italiana amplamente aceita e adicionando novas dimensões à sua história. Não é apenas a questão de sua origem geográfica que está em jogo, mas também seu contexto cultural e religioso.
Colombo é uma figura histórica que, paradoxalmente, está tanto no centro da narrativa da expansão europeia quanto cercado por dúvidas e mistérios pessoais. Essa nova descoberta nos lembra que a história é, muitas vezes, mais complexa do que aparenta. O novo estudo de DNA é mais um capítulo na longa busca para entender quem foi, de fato, Cristóvão Colombo, e o que sua vida pessoal pode nos ensinar sobre as grandes transformações de seu tempo.
O impacto da descoberta
Se confirmado, esse estudo pode alterar não apenas a maneira como vemos Colombo, mas também como compreendemos o papel dos judeus na Europa da época. Os judeus sefarditas, como os de Valência, desempenharam papeis significativos na ciência, navegação e comércio da Península Ibérica antes da sua expulsão. Saber que Colombo poderia ter sido parte desse grupo oferece novas camadas de interpretação sobre a relação entre o antissemitismo, a Inquisição e os grandes movimentos globais dos séculos XV e XVI.
Assim, esta pesquisa não apenas reescreve a biografia de uma das figuras mais conhecidas da história mundial, mas também nos obriga a reavaliar as interações entre as diferentes culturas e crenças que moldaram a era das explorações.