Em 16 de junho de 1487, um confronto crucial, frequentemente descrito como o último combate armado das Guerras das Rosas, teve lugar próximo a East Stoke. Esta batalha decidiu o destino da Inglaterra e selou a posição do rei Henrique VII contra uma rebelião decisiva liderada por John de la Pole, Conde de Lincoln, e Francis Lovell, Visconde Lovell. Esta luta, que foi muito mais do que um simples embate militar, teve profundas implicações para o futuro da monarquia inglesa e marcou o fim da instabilidade que havia dominado o país por décadas.
Contexto da Rebelião Yorkista
A ascensão de Henrique VII ao trono em 1485, após a Batalha de Bosworth, não foi o fim dos conflitos dinásticos que atormentaram a Inglaterra. Apenas 22 meses após assumir o poder, Henrique VII enfrentou um desafio significativo em forma de rebelião yorkista. Esta rebelião foi fomentada por John de la Pole, sobrinho de Ricardo III, e Francis Lovell, um dos amigos mais próximos do falecido rei. Ambos haviam inicialmente se rebelado em 1486, mas, após sua fuga para a corte de Margarida de York, Duquesa Viúva da Borgonha, começaram a planejar um retorno audacioso.
Margarida de York, irmã de Ricardo III e uma figura central na intriga política europeia, financiou e apoiou a rebelião ao enviar mercenários para apoiar a causa yorkista. A ambição desses rebeldes era substituir Henrique VII por Lambert Simnel, um jovem que alegava ser Edward, Conde de Warwick, um pretendente legítimo ao trono. Simnel foi coroado como Rei Eduardo em Dublin em 24 de maio de 1487, e rapidamente ganhou o apoio de vários líderes irlandeses antes de desembarcar na Inglaterra em 4 de junho.
O Início do Conflito
Após o desembarque, as forças rebeldes se dispersaram. Lovell, comandando um grupo de mercenários, avançou para Bramham Moor em 9 de junho, com o objetivo de interceptar Lord Clifford, um dos líderes leais a Henrique VII. Clifford, que havia levado cerca de 400 soldados para se juntar às forças reais, parou em Tadcaster para descansar. Naquela noite, Lovell lançou um ataque surpresa, que foi descrito por documentos da época como uma “grete skrymisse”. Embora a exata natureza do confronto permaneça obscura, o resultado foi a derrota de Clifford, que fugiu, deixando equipamento e bagagem para trás.
A Batalha de Stoke Field: 16 de Junho de 1487
A batalha que se seguiu é envolta em mistério, com detalhes fragmentados e variados. A maior parte das informações sobre o confronto e as forças envolvidas é vaga, especialmente sobre quem estava lutando a favor de Henrique VII. No entanto, sabe-se que as forças rebeldes incluíam Lovell, Lincoln, o Conde de Desmond da Irlanda e o mercenário bávaro Martin Schwartz. Do lado de Henrique VII, o exército foi liderado por John de Vere, Conde de Oxford, que já havia demonstrado sua habilidade em Bosworth e estava ativo na campanha desde o início. Outros líderes importantes incluíam Lord Scales, Rhys ap Thomas, John Paston e Edward Norris, cunhado de Lovell. No entanto, a presença do tio de Henrique VII, Jasper, Duque de Bedford, permanece incerta, pois não há confirmação de seu papel na batalha.
Estratégia e Resultado
A batalha de Stoke Field durou aproximadamente três horas, um pouco mais do que a Batalha de Bosworth. As táticas utilizadas e os detalhes exatos das manobras militares permanecem envoltos em mistério. A vitória de Henrique VII pode ser atribuída a vários fatores. Polydore Vergil, historiador do século XVI, sugeriu que a inferioridade das armas dos irlandeses de Kildare contribuiu para a derrota, com suas armas antiquadas sendo facilmente superadas pelas armas mais modernas dos leais a Henrique. Alternativamente, algumas fontes afirmam que os mercenários suíços e alemães enfrentaram problemas com suas próprias armas, causando danos colaterais e enfraquecendo as forças rebeldes.
Independentemente dos fatores exatos que determinaram o resultado, a batalha resultou na derrota decisiva dos yorkistas. A maioria dos líderes rebeldes, incluindo Martin Schwartz, o Conde de Desmond e John de la Pole, foi morta durante o combate ou logo após. Francis Lovell foi o único líder rebelde a sobreviver, fugindo através do rio Trent. Seu destino posterior é desconhecido, alimentando especulações e lendas sobre seu destino.
Consequências da Batalha
A vitória em Stoke Field consolidou a posição de Henrique VII e assegurou seu controle sobre a Inglaterra. O jovem pretendente, Lambert Simnel, foi colocado em uma posição menor na corte real, trabalhando na cozinha do palácio. Embora algumas teorias sugiram que o verdadeiro pretendente poderia ter caído na batalha, o fato é que a derrota dos yorkistas enfraqueceu significativamente os inimigos de Henrique e consolidou a dinastia Tudor.
As repercussões dessa batalha não foram apenas políticas, mas também simbólicas, marcando o fim efetivo das Guerras das Rosas e a estabilização do reino sob o governo de Henrique VII. O impacto imediato da vitória foi um período de relativa paz e segurança para a Inglaterra, que estava finalmente emergindo das décadas de conflito dinástico que haviam caracterizado o final do século XV.
A Batalha de Stoke Field é frequentemente lembrada como o último ato das Guerras das Rosas, mas suas complexidades e implicações vão muito além de uma simples batalha. Ela simboliza o fim de uma era de instabilidade e o começo de um novo capítulo na história inglesa sob a dinastia Tudor. Embora muitos detalhes permaneçam obscuros, a importância desta batalha na consolidação do poder de Henrique VII e na formação da Inglaterra moderna é indiscutível.