Leitura de História

Benjamín Solari Parravicini e a profecia do homem cinza

O homem sempre buscou sinais que pudessem iluminar o futuro. Desde os oráculos da Grécia Antiga até as complexas previsões de Nostradamus, a ideia de que eventos históricos estariam escritos antes mesmo de acontecerem exerce um fascínio irresistível. Na Argentina, essa tradição encontrou um nome peculiar: Benjamín Solari Parravicini. Chamado de “Nostradamus argentino”, ele se tornou figura central em debates recentes, pois algumas de suas enigmáticas psicografias foram associadas ao atual presidente, Javier Milei.

Mas quem foi esse homem? Suas previsões são realmente impressionantes ou meras coincidências moldadas pela interpretação subjetiva? Para entender o fenômeno, precisamos viajar no tempo e mergulhar no contexto que deu origem às suas profecias.

A vida de Benjamín Solari Parravicini

Benjamín Solari Parravicini nasceu em Buenos Aires, em 8 de agosto de 1898, em uma família aristocrática. Desde cedo, demonstrou talento para as artes, dedicando-se à pintura e à escultura. Seus contemporâneos o reconheceram por suas habilidades plásticas, mas o que realmente marcaria sua trajetória foi algo bem diferente: a alegação de que possuía dons proféticos.

Desde criança, Solari Parravicini afirmava ter visões do futuro. Relatos indicam que entrava em estados de transe nos quais desenhava figuras acompanhadas de mensagens escritas à mão. Essas obras, chamadas de psicografias, só alcançaram notoriedade após sua morte, tornando-se objeto de estudo e debate.

Entre os anos 1930 e 1970, produziu cerca de mil psicografias, muitas das quais foram posteriormente interpretadas como previsões de acontecimentos históricos globais e nacionais.

As psicografias e o enigma das profecias

As psicografias de Solari Parravicini combinam desenhos e frases que, à primeira vista, podem parecer desconexas ou abstratas. No entanto, defensores de seu legado argumentam que diversas dessas mensagens se materializaram ao longo das décadas.

Entre os eventos que ele supostamente previu, destacam-se:

  • O ataque às Torres Gêmeas em 2001
  • A criação da ONU em 1945
  • A ascensão da internet
  • O assassinato de John F. Kennedy
  • A eleição do Papa Francisco em 2013
  • A Guerra das Malvinas em 1982

Obviamente, críticos apontam que a interpretação dessas psicografias é um processo altamente subjetivo. Muitos de seus desenhos são vagos o suficiente para se encaixarem em diferentes eventos históricos, dependendo da leitura que se faz deles.

A profecia do “homem cinza” e Javier Milei

Nos últimos meses, a figura de Solari Parravicini voltou a ser tema de discussões na Argentina. O motivo? A ligação entre suas profecias e o governo de Javier Milei.

Entre as psicografias mais comentadas, destaca-se aquela que fala sobre “o homem cinza”:

“O homem humilde na Argentina se alega para governar. Ele será de casta jovem e desconhecida no ambiente, mas será santo de maneiras, crenças e sabedoria. Ele chegará depois do terceiro dia!”

Os apoiadores de Milei, especialmente o grupo “Las Fuerzas del Cielo”, interpretam essa passagem como uma referência direta ao presidente. O termo “casta” teria uma conexão evidente com o discurso político do líder argentino, que se posiciona como alguém fora do establishment tradicional. Além disso, a expressão “depois do terceiro dia” foi associada ao resultado das eleições de novembro de 2023.

O impacto da profecia chegou até mesmo ao círculo íntimo de Milei. Santiago Caputo, estrategista político do governo, chegou a tatuar uma das psicografias de Solari Parravicini, evidenciando o quanto essa crença permeia certos setores da administração.

Misticismo e política: uma relação antiga

Dibuix fet el 1939 per Benjamin Solari, un artista argentí que feia prediccions escrites i visuals del futur.

Não seria a primeira vez que previsões proféticas influenciam a política. Desde os tempos bíblicos, a ideia de líderes predestinados guiando nações sempre teve um forte apelo. Napoleão Bonaparte foi associado a profecias, Adolf Hitler explorou o misticismo em seu governo, e até mesmo nos Estados Unidos há líderes que evocam predições religiosas em seus discursos.

No caso de Milei, a associação com Solari Parravicini serve como uma ferramenta simbólica. Em tempos de instabilidade e mudanças profundas, a crença de que há um “plano maior” em andamento pode fortalecer a narrativa de um líder e criar uma identidade messiânica ao redor dele.

Coincidência ou destino?

Afinal, as previsões de Solari Parravicini são provas de uma visão sobrenatural ou simplesmente um reflexo da necessidade humana de encontrar padrões? A resposta dependerá da perspectiva de cada leitor. Para os céticos, suas psicografias são vagas e abertas a múltiplas interpretações. Para os crentes, ele foi um visionário capaz de enxergar o futuro com precisão surpreendente.

Seja como for, o fato é que, décadas após sua morte, suas palavras continuam a ressoar e influenciar o imaginário coletivo. Em um mundo cada vez mais incerto, talvez a maior profecia de Solari Parravicini não esteja nos eventos que ele previu, mas no impacto duradouro que sua obra ainda exerce sobre a política e a sociedade argentina.