Leitura de História

Como um Acordo Improvável entre Israel e Hamas Foi Costurado em Última Hora

Em 15 de janeiro de 2025, um acordo improvável entre Israel e o Hamas foi finalmente alcançado, após meses de negociações intensas e pressões internacionais.

A complexidade das negociações diplomáticas no Oriente Médio é algo que, por vezes, escapa ao entendimento da grande maioria das pessoas. O processo de paz entre Israel e o Hamas, por exemplo, é um labirinto de interesses conflitantes, tensões geopolíticas e, acima de tudo, um jogo de paciência onde um único erro pode custar anos de progresso. Em janeiro de 2025, uma série de eventos, muitas vezes imperceptíveis para os observadores externos, culminaram em um cessar-fogo que parecia impossível até o último momento. O caminho até o acordo, que foi concretizado no dia 15 de janeiro, estava repleto de desafios, reviravoltas e pressões internacionais.

O Jogo de Xadrez Diplomático

Ao longo dos últimos meses de 2024 e início de 2025, os mediadores internacionais – principalmente o Catar, o Egito e os Estados Unidos – trabalharam incessantemente para fazer avançar as negociações entre Israel e o Hamas. No entanto, a situação parecia estar estagnada. Era um processo que se arrastava sem grandes avanços, muitas vezes sem perspectivas de um acordo. As dificuldades não se limitavam apenas às diferenças políticas e militares entre as partes envolvidas, mas também às questões logísticas e de confiança, que tornavam qualquer acordo temporário uma utopia distante.

Em um prédio em Doha, os negociadores israelenses e do Hamas se encontraram, mas não fisicamente. Um andar os separava, e um pequeno corredor era a única coisa que impedia que as conversas se transformassem em uma crise. O fato de que um acordo estava a ponto de ser firmado e as negociações continuavam até os últimos minutos revela a fragilidade e a complexidade de um processo que nunca havia estado tão próximo de um fim.

A Mudança de Dinâmica

A grande virada nas negociações ocorreu em meados de dezembro de 2024, quando a situação regional começou a mudar de maneira decisiva. O Hamas, que antes parecia estar em uma posição mais forte, se viu isolado devido a uma série de eventos geopolíticos adversos. A morte do líder Yahya Sunwar, dois meses antes, enfraqueceu o movimento, enquanto o Hezbollah, aliado do Hamas, também enfrentava dificuldades. Mais ainda, o governo sírio de Bashar al-Assad, apoiado pelo Irã, não conseguiu fornecer o suporte esperado.

A pressão internacional, especialmente vinda de Washington, fez com que o Hamas considerasse sua postura. As esperanças de um apoio externo que viria em seu auxílio começaram a se dissipar, e a equação política que antes parecia favorável ao grupo militante se reconfigurou. A perspectiva de uma intervenção direta dos Estados Unidos, com Biden e Trump pressionando ambos os lados, tornou-se um fator crucial nas conversas, especialmente após o enfraquecimento de aliados importantes do Hamas na região.

O Papel dos Mediadores

A partir de dezembro, a dinâmica das negociações se intensificou. O papel dos mediadores – Catar e Egito, mas também a influência indireta dos Estados Unidos – foi fundamental para permitir que as conversas progredirem. As reuniões passaram a ocorrer em um ritmo frenético, e as conversas de “proximidade”, onde ambas as delegações se encontravam no mesmo prédio, mas em andares separados, eram cada vez mais comuns. A troca de documentos e propostas entre os mediadores e as delegações de ambos os lados era constante, e cada minuto parecia crucial.

A presença de Steve Wittkoff, um empresário e enviado especial de Donald Trump, na fase final das negociações, foi um ponto de inflexão. A atuação direta de um representante do ex-presidente foi decisiva para que o governo israelense, que já estava relutante em fazer concessões, fosse pressionado a aceitar as condições estabelecidas pelo Hamas e pelos mediadores. As conversas entre Wittkoff e Netanyahu foram descritas como tensas, mas necessárias. A pressão sobre Israel era palpável, e a mensagem de Trump foi clara: o acordo precisava acontecer imediatamente.

Obstáculos e Conflitos de Interesse

Apesar de todos os esforços, o processo não foi linear. Durante semanas, surgiram impasses difíceis de superar. O Hamas, por exemplo, fez exigências rigorosas quanto à lista de reféns que deveriam ser libertados nas primeiras fases do acordo. Além disso, o número de prisioneiros palestinos que Israel estava disposto a liberar também se tornou uma questão central. A negociação das “chaves”, ou seja, das identidades e números dos prisioneiros que seriam trocados, foi uma das áreas mais complexas.

Outro ponto crucial foi a retirada das tropas israelenses de Gaza, uma questão delicada que envolvia questões de segurança tanto para Israel quanto para o Hamas. A pressão para que as tropas israelenses se retirassem das áreas povoadas de Gaza era enorme, mas Israel insistia na necessidade de um processo gradual e controlado. A situação exigia um equilíbrio delicado, algo que só foi alcançado nas últimas horas de negociações, quando mediadores e negociadores de ambos os lados se reuniram incansavelmente para encontrar um meio-termo.

Conquista Improvável

Quando o acordo finalmente foi alcançado em 15 de janeiro, poucos acreditavam que fosse possível. A pressão foi intensa, e as últimas 72 horas de negociações foram descritas como um verdadeiro “vaivém” de propostas e ajustes. No entanto, no final das contas, o que parecia impossível se tornou realidade. Um cessar-fogo foi formalizado, reféns israelenses foram libertados em troca de prisioneiros palestinos, e Israel começou a retirar suas tropas de Gaza.

A assinatura do acordo, que antes parecia um objetivo distante, foi possível graças a uma combinação de pressões externas, mudanças na dinâmica regional e, acima de tudo, a diplomacia intensa de mediadores que souberam aproveitar cada minuto da negociação.

Lições do Processo

O processo de negociação entre Israel e o Hamas, embora repleto de complexidades, oferece valiosas lições sobre a natureza das negociações diplomáticas em contextos de conflito prolongado. Primeiramente, é fundamental que os mediadores estejam preparados para atuar de maneira estratégica, acompanhando as mudanças de dinâmica política e ajustando suas abordagens conforme necessário. Além disso, a pressão externa, quando exercida de maneira eficaz, pode ser uma ferramenta poderosa para quebrar impasses.

Finalmente, o que este processo nos ensina é que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, a diplomacia e o diálogo podem abrir espaço para soluções que pareciam impensáveis. A história das negociações entre Israel e o Hamas mostra que, no final, a persistência, a paciência e o trabalho colaborativo podem transformar o impossível em realidade.