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Destino Manifesto: A Doutrina Que Guiou a Expansão dos EUA

O Destino Manifesto, doutrina americana do século XIX, sustentou a expansão dos EUA, fundindo ideologia, religião e política na crença de um “povo escolhido”.

No coração da ideologia expansionista dos Estados Unidos do século XIX está o Destino Manifesto, uma doutrina que posiciona a nação americana como uma entidade divina, predestinada a ocupar o continente norte-americano. Esse conceito, primeiro articulado em 1845 pelo jornalista John O’Sullivan, reflete a crença de que os Estados Unidos tinham um “desígnio sagrado” para se expandir e promover seus valores democráticos, como expressão do propósito divino.

A Expansão como Missão Divina

Quando O’Sullivan publicou seu texto celebrando a anexação do Texas, ele fez mais do que descrever um evento histórico; ele expressou um fervor nacionalista e religioso que posicionava a expansão territorial como um cumprimento de vontade divina. Para O’Sullivan e muitos outros americanos, a anexação do Texas e outras terras representava mais que ambição: era uma manifestação da Providência. Como ele mesmo afirmou, outros países tentaram, sem sucesso, deter o progresso americano, mas nenhum esforço impediria o cumprimento do destino dos EUA.

O Papel da Excepcionalidade Americana

O Destino Manifesto apoia-se fortemente na noção de excepcionalidade americana. Na visão de seus defensores, os Estados Unidos eram não apenas uma nação em ascensão, mas um “povo escolhido” incumbido de disseminar a liberdade e a democracia. Essa ideia, que perpassa a cultura americana até hoje, transformou o expansionismo em um “dever moral”, justificando a tomada de terras indígenas e de territórios de nações vizinhas como o México.

A excepcionalidade americana não é apenas um reflexo do orgulho nacional, mas uma doutrina de superioridade moral e religiosa. Desde a sua fundação, o país enraizou-se em princípios calvinistas, com a crença de que alguns são predestinados ao sucesso, enquanto outros são destinados ao fracasso. No contexto americano, isso significava que os colonos e seus descendentes se viam como herdeiros de uma promessa divina, cuja realização implicava o domínio sobre os “menos favorecidos” e o “não-eleito”.

A Independência do Texas e a Conquista do México

O Texas representa um exemplo claro da aplicação prática do Destino Manifesto. Originalmente parte do México, o território texano foi amplamente povoado por colonos americanos incentivados pelo próprio governo dos EUA. Quando o México centralizou seu sistema político em 1836, os texanos, já inspirados pelo nacionalismo americano, declararam sua independência. Em 1845, o Congresso da então República do Texas votou pela anexação aos Estados Unidos, fortalecendo a percepção de que o país estava destinado a controlar o continente de “mar a mar”.

O Destino Manifesto alcançou novas proporções com a Guerra Mexicano-Americana (1846–1848). Quando o presidente James Polk, um entusiasta da expansão, assumiu o cargo, ele buscou incorporar a Califórnia e outros territórios ao país. A vitória americana nessa guerra resultou na incorporação de vastos territórios, solidificando a doutrina expansionista e levando os Estados Unidos até as margens do Oceano Pacífico.

Doutrina Monroe e a América Como Esfera de Influência

Em 1823, a Doutrina Monroe estabeleceu outro princípio fundamental do Destino Manifesto: a proteção do continente americano contra a influência europeia. O presidente James Monroe declarou que qualquer intervenção europeia no hemisfério ocidental seria vista como uma ameaça aos Estados Unidos, reforçando a ideia de que o continente era, por direito, uma esfera de influência americana. Esse princípio serviu para legitimar futuras intervenções, justificando décadas de ações políticas, diplomáticas e militares para “proteger” as nações americanas dos interesses europeus.

A Influência Religiosa e o Ressurgimento Protestante

O Destino Manifesto também foi influenciado pelo ressurgimento religioso que marcou o início do século XIX, especialmente entre os protestantes. Esse fervor religioso promoveu a ideia de que os EUA tinham uma missão sagrada para trazer civilização e religião ao “Velho Oeste” e às terras indígenas. A ideia era expandir não só fisicamente, mas espiritualmente, guiados pelo que muitos viam como um propósito divino, estabelecendo-se como a “Cidade sobre a Colina” — uma nação-modelo para o mundo.

Essa crença de superioridade cultural e espiritual permitiu a justificativa para políticas de remoção de indígenas e de “americanização” das novas terras conquistadas. Era a ideia de que os Estados Unidos não só tinham o direito, mas o dever de civilizar, cristianizar e governar essas terras, de acordo com seus próprios valores e ideais.

Críticas e Controvérsias

Apesar de seu apelo entre os defensores da expansão territorial, o Destino Manifesto nunca foi consensual. Muitos políticos e intelectuais americanos, especialmente os opositores do Partido Democrata, condenavam essa ideologia. Para eles, a doutrina expansionista era uma expressão perigosa de imperialismo que ameaçava os princípios republicanos e os valores democráticos dos próprios Estados Unidos.

Durante a Guerra Mexicano-Americana, o Destino Manifesto foi amplamente criticado como uma justificativa para agressão e dominação. A filosofia transcendentalista Margaret Fuller, entre outros, questionou o verdadeiro significado da expansão americana, sugerindo que a doutrina refletia uma ganância territorial em detrimento dos valores morais e humanitários.

Um Legado Duradouro

O Destino Manifesto moldou a política dos Estados Unidos até o século XX, com reverberações na Doutrina Monroe e em políticas intervencionistas no Caribe, na América Latina e além. Durante a Guerra Fria, a crença na excepcionalidade americana continuou a justificar intervenções em nome da “liberdade” e da luta contra o comunismo.

No contexto atual, essa doutrina persiste, ainda que sob novas formas. Discursos de líderes americanos, como os dos presidentes e candidatos de ambos os principais partidos, frequentemente invocam a ideia de uma “nação escolhida”. Esse orgulho nacional se reflete na maneira como os Estados Unidos se posicionam no cenário global, vendo-se como líderes da democracia e da liberdade mundial.



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