Desvende a filosofia atemporal de Platão em “A República”, explorando justiça, política e a complexidade da alma humana. Uma jornada intelectual fascinante!
A obra magistral de Platão, intitulada “A República”, é um diálogo socrático que transcende os séculos ao mergulhar nas profundezas da justiça, explorando tanto o caráter do homem justo quanto a ordem de uma sociedade justa. Datado de 380 a.C., este texto é uma obra-prima filosófica que não apenas ilumina o pensamento da antiguidade, mas também estabelece as bases para a reflexão política e ética que ecoa até os dias atuais.
O diálogo centraliza-se em Sócrates, o filósofo incansável, que discute a essência da justiça com diversos interlocutores, conduzindo-nos por cidades hipotéticas, cada qual sustentada por diferentes formas de justiça. Curiosamente, apesar do título, a “República” não versa exclusivamente sobre uma forma de governo, mas, mais precisamente, sobre a política em sua essência.
Platão, considerado o pioneiro em aplicar a filosofia à política no mundo ocidental, delineia ideias revolucionárias acerca da natureza e do valor da justiça, bem como da intrincada relação entre justiça e política. Escrito no pós-Guerra do Peloponeso, o texto reflete a visão do autor sobre a política como um jogo sujo, empenhado principalmente na manipulação das massas desinformadas, carecendo do nutrimento da sabedoria.
O diálogo inicial entre Sócrates e jovens versa sobre a natureza da justiça, questionando a alegação de que ela seria meramente o interesse dos mais fortes. Sócrates argumenta que tal interpretação levaria à desarmonia e à infelicidade generalizada.
Platão classifica a sociedade em três grupos fundamentais: os Produtores (artesãos e agricultores), os Auxiliares (soldados) e os Guardiões (governantes, a classe política). Uma sociedade justa, segundo Platão, depende da harmonia entre esses grupos, com cada um desempenhando seu papel específico. Essa concepção permeia os Livros II a IV da obra.
A complexidade das relações sociais é espelhada na divisão tripartida da alma humana proposta por Platão, refletindo as três classes da sociedade. A alma divide-se em partes racionais, espirituosas e apetitivas. A justiça de um indivíduo está intrinsecamente ligada ao equilíbrio entre essas partes, sendo um indivíduo justo aquele governado pela razão, apoiado pelo espírito e com os apetites submetidos a essa ordem.
Os sistemas tripartidos entrelaçam-se, e os Guardiões são apresentados como os mais justos, uma vez que são governados pela razão. Nessa intrincada teia filosófica, Platão destaca-se ao ser o primeiro a fundamentar a política em conceitos éticos e psicológicos.
A teoria das Formas, elemento distintivo da filosofia platônica, simplifica o mundo em dois reinos: o visível e o inteligível. Nesse último, residem as Formas – entidades imutáveis como a Bondade e a Beleza, percebidas intelectualmente.
A compreensão das Formas é reservada aos Guardiões, destacando sua posição privilegiada na busca pela verdade absoluta. Este conceito, somado à tríade presente em diversas partes da obra, confere uma estrutura profunda e simbólica à “República”.
No Livro IX, Platão argumenta, em duas partes, a desejabilidade da justiça. Utilizando o exemplo do tirano, que cede ao apetite desenfreado, Platão sugere que a injustiça atormenta a psique humana. Apenas os Guardiões, afirma ele, podem vivenciar os três prazeres fundamentais: amor pelo dinheiro, busca pela verdade e anseio pela honra.
Em síntese, os argumentos de Platão não apenas exploram a natureza da justiça, mas também a conectam de maneira inextricável às suas consequências. A justiça, conclui-se, é desejável não apenas como um fim em si mesma, mas também pelos frutos positivos que gera. Essa é a lição central da “República”, uma lição que transcende os séculos e continua a ressoar em nosso entendimento contemporâneo da ética e da política.