Escândalo sexual na Guiné Equatorial expõe disputas pela presidência, corrupção e intrigas no regime de Teodoro Obiang Nguema.
Nas últimas semanas, a Guiné Equatorial foi abalada por um escândalo de proporções gigantescas. Vídeos explícitos, que foram vazados nas redes sociais, mostraram um alto funcionário público do país, Baltasar Ebang Engonga, também conhecido como “Bello”, em situações sexuais comprometedoras em seu escritório e outros locais. As estimativas sobre a quantidade de vídeos variam de 150 a mais de 400, e o impacto foi imediato, com as imagens rapidamente se espalhando pelas plataformas digitais. No entanto, o que muitos enxergam como mais um escândalo envolvendo vídeos vazados, pode ser, na realidade, uma jogada política complexa, inserida dentro da luta pelo poder na Guiné Equatorial.
O foco da atenção se volta para o próprio Engonga, sobrinho do atual presidente Teodoro Obiang Nguema, o governante mais longevo do mundo, que exerce seu controle sobre o país desde 1979. A política equato-guineana, conhecida por ser opaca e fortemente controlada, está agora em meio a uma batalha pela sucessão presidencial. As imagens e os vídeos íntimos de Engonga, muitos dos quais mostram mulheres próximas ao círculo de poder do país, não são apenas um escândalo de comportamento pessoal. Eles parecem representar um ataque direto à imagem de uma figura que, até recentemente, era considerada uma possível sucessora de Obiang.
A Guiné Equatorial, uma nação de apenas 1,7 milhão de habitantes, possui uma economia marcada por um rápido crescimento impulsionado pela exploração de petróleo, mas agora enfrenta um declínio nas reservas de petróleo e uma crescente desigualdade social. Enquanto uma pequena elite desfruta de uma riqueza extraordinária, grande parte da população vive em condições precárias. O governo de Obiang, amplamente criticado por violações de direitos humanos e por manter uma repressão severa contra a oposição, é também marcado por intrigas internas, corrupção e escândalos familiares. A administração de Obiang, mesmo mantendo um discurso de estabilidade, não é capaz de evitar o surgimento de questões que refletem os profundos problemas estruturais do país.
Embora a Guiné Equatorial realize eleições regulares, a realidade política do país é dominada por uma falta de pluralidade. A oposição é quase inexistente, com ativistas sendo perseguidos, presos ou exilados, e qualquer tentativa de contestar o regime é severamente monitorada. Nesse contexto, o escândalo envolvendo Baltasar Ebang Engonga pode ser interpretado como um reflexo das disputas pela sucessão presidencial, com os vídeos sendo uma forma de desacreditar figuras políticas antes de um possível julgamento.
De acordo com uma teoria, o vazamento dos vídeos pode ser uma tentativa de minar a credibilidade de Engonga e enfraquecer sua posição, já que ele se tornaria um dos principais candidatos a suceder o tio, o presidente Obiang. A própria prisão de Engonga, em 25 de outubro, por acusações de corrupção e desvio de dinheiro público, parece estar diretamente ligada à tentativa de desacreditar o nome do possível sucessor. Ele foi preso depois de ser acusado de transferir grandes quantias de dinheiro para contas secretas nas Ilhas Cayman, um escândalo que colocou sua imagem ainda mais em xeque.
Engonga, que anteriormente ocupava o cargo de chefe da Agência Nacional de Investigação Financeira, tem sido visto como uma figura central na política do país, embora sua prisão e as imagens vazadas levantem questões sobre a profundidade das intrigas que permeiam o governo. As evidências sugerem que os vídeos foram inicialmente publicados em canais de plataformas como Telegram e depois compartilhados rapidamente por WhatsApp, o que gerou um frenesi nas redes sociais da Guiné Equatorial. Embora a origem dos vídeos ainda seja alvo de investigação, a disseminação deles teve uma resposta rápida da família presidencial. O vice-presidente, Teodoro Obiang Mangue, filho do presidente, se viu forçado a intervir e pediu que as empresas de telecomunicações suspendessem a disseminação das imagens.
O governo, no entanto, não conseguiu conter a crise de imagem e as investigações sobre a origem dos vídeos continuam. De acordo com relatos, o vice-presidente e sua equipe suspeitam que alguém do próprio círculo de segurança do governo tenha sido responsável pelo vazamento. Uma possível motivação seria a tentativa de destruir a reputação de Engonga antes de um julgamento formal, já que ele representava uma ameaça à ascensão de outros membros da família presidencial, como o próprio Obiang Mangue.
O episódio também evidenciou a falta de liberdade de imprensa no país, já que a Guiné Equatorial é uma das nações mais restritivas do mundo quando se trata de expressão e mídia. Qualquer tentativa de expor as mazelas do governo, especialmente por meio de plataformas de mídia social, é vista com desconfiança pelas autoridades, que, frequentemente, utilizam a repressão como forma de silenciar os opositores. Além disso, acusações de corrupção e enriquecimento ilícito entre os membros da elite governante da Guiné Equatorial não são novas, com relatos sobre o uso de luxos extravagantes, como o caso do vice-presidente, que teve seus bens apreendidos em investigações de corrupção internacional.
No entanto, uma questão fundamental levanta-se diante de todo esse caos: qual é o real impacto deste escândalo nas disputas pelo poder no país? A opinião de alguns ativistas sugere que estamos testemunhando o fim de uma era, o fim do governo de Obiang, que pode estar mais vulnerável do que nunca. As tensões pela sucessão presidencial, a luta interna entre os membros da elite e as intrigas políticas em jogo formam o cenário perfeito para escândalos como este se desvelam.
Os vídeos e as acusações de corrupção são sintomas de um problema maior, um reflexo de um sistema político falido, onde o poder está centralizado em poucas mãos e as disputas internas são tão intensas quanto os desafios enfrentados pela população. Na Guiné Equatorial, a luta pela sucessão presidencial não se limita apenas a um confronto político, mas envolve uma complexa rede de interesses familiares, econômicos e pessoais, em um cenário de crescente repressão e falta de liberdade. E, enquanto as imagens íntimas de Engonga continuam a ser compartilhadas, fica a pergunta: até onde os membros do regime estão dispostos a ir para garantir o controle absoluto do poder?