Leitura de História

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Leonor da Aquitânia: A Rainha que Dominou a Inglaterra

Leonor da Aquitânia, frequentemente lembrada como a esposa determinada e poderosa de Henrique II, é uma figura histórica que merece mais do que uma simples menção. Sua influência e controle sobre a Inglaterra após a morte de Henrique não se resumiram apenas a um período de transição; ela desempenhou um papel crucial que moldou o destino do reino. Em vez de se aposentar pacificamente, como seria de se esperar para alguém de sua idade e contexto, Eleanor utilizou sua posição para exercer um comando indiscutível e transformar seu legado.

A Libertação e o Novo Começo

Em julho de 1189, a morte de Henrique II marcou o início de uma nova era para Eleanor. Após quinze anos de confinamento imposto por seu marido, a liberdade finalmente lhe foi restituída. Em 1173, após se envolver nas rebeliões de seus filhos contra Henrique, Eleanor foi aprisionada, e essa prisão durou até a morte de seu cônjuge. Na época de sua libertação, Eleanor tinha 65 anos, uma idade considerada avançada para a época. No entanto, ao invés de se entregar ao descanso, ela se preparou para um período de intensa atividade e influência.

Contrariando as expectativas, Eleanor não optou por uma vida tranquila e reclusa. Em vez disso, ela aproveitou seus anos finais para solidificar sua posição e poder. Essa etapa de sua vida foi marcada por um vigor renovado e uma série de ações estratégicas que estabeleceram sua reputação como uma das figuras mais notáveis da história medieval.

O Papel de Eleanor na Transição de Poder

A primeira visão oficial de Eleanor após a morte de Henrique foi registrada por William Marshal. Enviado junto com Ricardo I para libertar Eleanor e nomeá-la como regente, Marshall encontrou a rainha em um estado de felicidade renovada. Sua surpresa foi evidente ao perceber que ela estava muito mais alegre do que nos anos anteriores. Esse testemunho reflete a nova fase da vida de Eleanor, que parecia ter se libertado não apenas fisicamente, mas também emocionalmente de seu passado tumultuado.

Eleanor não esperou pela formalização de sua posição. Impressionou seus guardiões com sua habilidade em lidar com os desafios de sua nova posição. A ironia era que, apesar de seu cativeiro, Eleanor havia se tornado uma das figuras mais respeitadas na Inglaterra, devido à sua conexão direta com o reino e ao respeito que conquistara entre a nobreza. Enquanto outros membros da realeza estavam menos envolvidos com a Inglaterra, Eleanor era vista como a figura central que podia garantir a estabilidade do reino.

Reformas e Popularidade

Como “a Rainha” da Inglaterra, Eleanor não perdeu tempo em começar a implementar mudanças significativas. Sua primeira tarefa foi preparar o país para a chegada do novo rei, Ricardo I. Ela se concentrou em desfazer algumas das ações impopulares de Henrique II, apresentando-se como a intermediária que compreendia e resolvia os problemas da população.

Eleanor também fez questão de libertar prisioneiros, uma ação que demonstrou sua empatia e habilidade política. Planejou uma gloriosa coroação para Ricardo, com música composta sob seu comando para celebrar o início de uma nova era de paz e prosperidade. Sua popularidade foi evidente quando a exclusão planejada das mulheres da cerimônia foi realizada a pedido dos nobres, um reflexo da influência que ela exercia.

Desafios e Negociações

Apesar do sucesso inicial, o período seguinte não foi isento de desafios. Quando Ricardo partiu para a Terceira Cruzada, Eleanor ficou responsável pelo governo da Inglaterra. Em vez de simplesmente agir como regente, ela desempenhou um papel ativo e dinâmico. Seu trabalho incluiu a reconciliação entre Ricardo e seu irmão mais novo, João, e a negociação do casamento de Ricardo com Berengária de Navarra.

A logística envolvida em trazer Berengária para Ricardo foi complexa e exigiu que Eleanor viajasse pessoalmente através da Europa. Enfrentando o rigoroso inverno europeu, ela percorreu os Alpes e viajou pela Itália para cumprir sua missão. Sua determinação foi recompensada com a realização de seus objetivos, mas a necessidade de sua presença foi tão vital que ela teve que voltar rapidamente à França para enfrentar novas questões políticas.

Medidas Rápidas e Políticas Internas

De volta à França, Eleanor tomou medidas decisivas para proteger seus interesses e os do reino. Fortificou castelos contra o retorno de Philip Augustus, que desejava recuperar sua irmã Alys, anteriormente prometida a Ricardo. Eleanor manteve Alys como moeda de barganha e supervisionou a defesa contra as tentativas de Philip de retomar o controle.

Na Inglaterra, Eleanor realizou uma série de reuniões e mobilizou apoio para Ricardo contra as maquinações de João. Ao mesmo tempo, trabalhou para resolver disputas e conflitos locais, como a rivalidade entre bispos e questões de segurança. Suas ações rápidas e eficazes ajudaram a manter a estabilidade do reino até o retorno de Ricardo.

O Resgate de Ricardo e o Final de Sua Jornada

A notícia da captura de Ricardo pelo imperador alemão trouxe novamente a responsabilidade para Eleanor. Sob sua liderança, medidas defensivas foram tomadas e o enorme resgate foi arrecadado e protegido sob seu selo. Com 69 anos, Eleanor embarcou em uma jornada difícil para a Alemanha para entregar o resgate pessoalmente. Sua presença foi crucial na negociação dos termos finais, e ela foi consultada por Ricardo durante o processo.

O retorno triunfante de Ricardo a Londres e o seu desfile pela cidade foram marcos na história. Eleanor continuou a desempenhar um papel importante ao lado de Ricardo, participando do conselho e apoiando-o em sua segunda coroação em Winchester. Somente quando Ricardo estava verdadeiramente seguro em seu reinado, em maio de 1194, Eleanor finalmente deixou a Inglaterra em suas mãos.

Leonor da Aquitânia não foi apenas uma rainha consorte; ela foi uma força dinâmica e formidável em um período crucial da história medieval. Sua capacidade de assumir o poder e exercer uma influência significativa, mesmo em seus anos mais avançados, demonstra uma força e resiliência notáveis. Sua vida e legado são um testemunho de sua habilidade política e de sua contribuição para a história da Inglaterra e da França.

O livro “Leonor da Aquitânia, Rainha da França e Inglaterra, Mãe dos Impérios” de Sara Cockerill, lançado em 15 de novembro de 2019, oferece uma reavaliação detalhada da vida de Eleanor, explorando mitos e novas perspectivas sobre seu relacionamento com a Igreja, seu patrocínio artístico e suas relações com seus filhos. A obra publicada pela Amberley Publishing proporciona uma visão aprofundada de uma das figuras mais complexas e influentes da história medieval.


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