No início de 1307, Robert Bruce, um homem de 32 anos e figura quase mítica da realeza do século XIV, estava à beira do desespero. O destino de Bruce, marcado por eventos dramáticos e traições, havia tomado um rumo sombrio após um assassinato sacrílego: a morte de seu principal rival, John Comyn, Lorde de Badenoch, no altar-mor de Greyfriars Kirk, em Dumfries, um ano antes. Este ato chocante não apenas abalou a sociedade escocesa, mas também trouxe uma série de complicações para Bruce.
Subsequentemente, Robert Bruce foi proclamado Rei dos Escoceses durante uma cerimônia apressada na Abadia de Scone, com o apoio dos líderes e do clero escocês. No entanto, essa ascensão ao trono foi acompanhada por uma sorte efêmera. Em questão de meses, Bruce enfrentou uma derrota devastadora na Batalha de Methven, travada contra Aymer de Valence, um comandante inglês de destaque. Forçado a fugir, Bruce viu-se perseguido por inimigos em todos os flancos.
O Fugitivo e a Esperança no Exílio
Ao final do outono de 1306, Robert Bruce desapareceu dos registros, tornando-se um fugitivo em seu próprio reino. Refugiado temporariamente nas Ilhas de Rathlin e nas Ilhas Ocidentais, Bruce aguardava um momento oportuno para recuperar sua coroa. Apesar de sua condição de pária, Bruce estava determinado a mudar sua sorte. Ele havia investido demais e perdido muito para abandonar sua causa agora.
A tarefa de Bruce era monumental e quase impossível. Com o rei Eduardo I da Inglaterra, cuja reivindicação sobre a Escócia desde 1296 se tornara quase opressiva, a missão de Bruce era, em muitos aspectos, uma missão impossível. Os ingleses haviam conquistado grandes porções da Escócia, ocupando castelos estratégicos, portos comerciais e fronteiras. A esperança de uma resistência escocesa duradoura estava se dissipando rapidamente.
No entanto, mesmo em seu exílio, Bruce continuava a inspirar lealdade. Sua determinação e coragem ainda reverberavam entre aqueles que desejavam a independência escocesa.
A Estratégia de Retorno: Quebrando os Códigos Tradicionais
O retorno de Bruce ao cenário político e militar começou a se concretizar quando ele decidiu redesenhar o tabuleiro de xadrez da guerra. Em vez de seguir os tradicionais códigos de cavalaria medieval, que exigiam um código de conduta rígido e honroso, Bruce escolheu uma abordagem mais pragmática e audaciosa. Ele decidiu enfrentar seus inimigos com a mesma intensidade e brutalidade que eles usavam contra ele.
Esse plano envolvia a implementação de uma combinação de guerra de guerrilha, terra queimada e ataques rápidos contra tanto ingleses quanto escoceses. Esta nova abordagem foi projetada para enfraquecer e desestabilizar seus adversários, desafiando as normas e estratégias tradicionais da época. Bruce estava preparado para deixar de lado os valores tradicionais para alcançar o maior benefício para sua causa.
A Catalítica Retomada e a Batalha dos Titãs
O retorno de Bruce começou de fato quando ele desembarcou na Ilha de Arran em fevereiro de 1307. Sua presença foi imediatamente catalítica, estimulando outros escoceses descontentes a se juntarem à sua causa. Em abril, Bruce obteve uma pequena vitória em uma escaramuça no lago íngreme de Glen Trool, o que não só reforçou sua reputação, mas também aumentou seus números.
Motivado pelos frutos de suas novas estratégias, Bruce decidiu confrontar um dos principais comandantes do rei Eduardo I na Escócia: Aymer de Valence, que mais tarde se tornaria Conde de Pembroke e desempenharia um papel significativo no conturbado reinado de Eduardo II. Valence, que havia vencido Bruce na Batalha de Methven e era parente de Comyn por casamento, buscava vingança pela morte de seu cunhado.
A Batalha de Loudoun Hill
O confronto final ocorreu em Loudoun Hill, onde Bruce, agora com cerca de 600 homens, posicionou suas tropas em uma posição vantajosa. Ele escolheu um terreno elevado que dominava a área, cercado por pantanosos e terrenos acidentados, que negavam a possibilidade de uma carga de cavalaria eficaz por parte dos ingleses.
A estratégia de Bruce era sofisticada e engenhosa. Ele fez uso do terreno a seu favor, cavando trincheiras e camuflando-as, enquanto posicionava seus homens para atrair a vanguarda inglesa. Quando Aymer de Valence avançou, ele encontrou suas tropas atoladas e imobilizadas pelos pântanos e trincheiras, tornando-se um alvo fácil para os escoceses. O resultado foi uma vitória esmagadora para Bruce, com Valence e seus homens sofrendo pesadas baixas.
Através de planejamento estratégico e conhecimento do terreno, Bruce conseguiu reverter a sorte e quebrar a invencibilidade percebida do regime inglês. O resultado foi um impacto psicológico significativo, especialmente considerando que, no mês seguinte, o rei Eduardo I faleceu em Burgh-by-Sands, deixando um reino tumultuado e endividado.
A Luta Continuada e o Legado Duradouro
Após a vitória em Loudoun Hill, Bruce continuou sua luta pela independência. Somente em 1314, após mais sete anos de batalhas e campanhas, ele conseguiria uma vitória decisiva na Batalha de Bannockburn. No entanto, apesar de suas vitórias militares, a luta não estava totalmente ganha. Bruce enfrentou dificuldades contínuas, incluindo a excomunhão espiritual e a imposição de penalidades severas sobre suas terras.
Foi necessário aguardar 21 anos após a vitória em Loudoun Hill para que Bruce garantisse o reconhecimento oficial da independência escocesa, após a deposição de Eduardo II. A luta de Bruce não apenas solidificou sua posição como herói nacional, mas também garantiu a independência da Escócia, consolidando seu legado.
A trajetória de Robert Bruce é uma história de determinação, estratégia e resiliência. De fugitivo em seu próprio reino a herói nacional, sua jornada é um testemunho de como a coragem e a astúcia podem transformar o destino. Bruce não apenas desafiou as expectativas de seu tempo, mas também deixou um legado duradouro que ressoa na história escocesa até os dias de hoje.