Leitura de História

O Enigma de Stonehenge: Pedras Perdidas e Segredos Milenares

A icônica silhueta de Stonehenge, com seus imponentes megálitos, fascina tanto especialistas quanto leigos há séculos. Entretanto, o que vemos hoje é apenas parte do que esse monumento já foi. Construído há aproximadamente 4.500 anos, Stonehenge guarda mistérios que desafiam arqueólogos: para onde foram as pedras perdidas? Qual era seu propósito original? Já esteve completo? Essas questões continuam a alimentar debates, teorias e descobertas surpreendentes.

A Experiência de Stonehenge no Solstício

Um dos momentos mais emblemáticos em Stonehenge é observado durante o solstício de inverno, em 21 de dezembro. Ao pôr do sol, um alinhamento preciso entre os megálitos forma uma “janela” através da qual a luz alaranjada atravessa, criando uma cena poderosa e quase sobrenatural. No entanto, há 4.500 anos, o espetáculo seria ainda mais impressionante. Naquela época, até seis pares de pedras verticais adicionais poderiam ter marcado a linha de visão do solstício, complementando as formações que ainda vemos hoje.

Pedras Perdidas: O Que Sabemos?

Muitas das pedras originais estão ausentes, como evidencia o estudo arqueológico do local. Apenas a “Pedra 56”, com sua saliência no topo — outrora encaixada em uma lintel horizontal —, permanece como vestígio de um conjunto maior. Descobertas sugerem que o local era muito mais extenso do que atualmente percebemos.

O arquiteto e antiquário John Wood, em 1740, fez o primeiro levantamento detalhado de Stonehenge, registrando um layout semelhante ao atual. Contudo, escavações realizadas entre os séculos XIX e XX revelaram poços vazios e bases de pedras que foram removidas ou deslocadas. Essas investigações levaram os arqueólogos a questionar: Stonehenge já foi “finalizado” ou permaneceu inacabado?

A História Complexa de Modificações

Entre 1901 e 1964, muitas pedras foram reposicionadas ou reforçadas com concreto devido a preocupações de segurança. Essa intervenção, embora necessária, mascarou parcialmente a verdadeira configuração histórica do local. Adicionalmente, relatos de séculos anteriores revelam que visitantes frequentemente retiravam fragmentos das pedras como lembranças, contribuindo para sua degradação.

O Papel das Pedras Azuis

Além dos megálitos de arenito local (sarsens), as chamadas “pedras azuis” desempenham um papel intrigante na história de Stonehenge. Extraídas de regiões distantes, como o sudoeste do País de Gales, elas sugerem um esforço colossal de transporte e logística. Acredita-se que algumas dessas pedras foram removidas para outros locais, como evidenciado pela “Pedra de Boles Barrow”, descoberta no jardim de uma casa próxima e posteriormente identificada como parte de Stonehenge.

As pedras azuis também foram associadas a crenças de propriedades curativas. Fragmentos encontrados em escavações indicam que elas foram intencionalmente quebradas e utilizadas em diferentes contextos culturais ao longo dos séculos.

O Enigma da Pedra do Altar

Entre as descobertas mais recentes e surpreendentes está a “Pedra do Altar”. Diferente das demais, ela é composta por um arenito especial que não corresponde às formações conhecidas no País de Gales. Estudos geológicos realizados em 2024 indicaram que sua origem está no extremo nordeste da Escócia, tornando-a o megálito mais viajado de Stonehenge.

Impacto Cultural e Teorias

Stonehenge não é apenas um marco arqueológico; é também um ícone cultural que inspira curiosidade e teorias. Desde especulações sobre sua relação com astronomia até associações com rituais religiosos, o monumento continua sendo um símbolo do engenho humano e do desejo de se conectar com o cosmos.

No entanto, a perda de muitas pedras e as modificações ao longo dos séculos deixam lacunas significativas em nossa compreensão. Como destacou o arqueólogo Mike Pitts, “Nunca tomo nada como garantido em Stonehenge”. Cada descoberta adiciona uma peça ao quebra-cabeça, mas também levanta novas questões sobre sua construção, uso e significado.

Stonehenge permanece como um testemunho impressionante da habilidade e visão de nossos antepassados. Embora muitas de suas pedras estejam perdidas, o monumento ainda ressoa com um senso de mistério e propósito que transcende o tempo. A contínua investigação arqueológica, combinada com tecnologias avançadas, promete trazer novas respostas — e, sem dúvida, novas perguntas — sobre este fascinante enigma.

Referências

  • Pitts, M. How to Build Stonehenge. Thames & Hudson, 2022.
  • Darvill, T. Stonehenge: The Biography of a Landscape. Tempus, 2006.
  • Parker Pearson, M. Stonehenge: Exploring the Greatest Stone Age Mystery. Simon & Schuster, 2013.