Roma era essencialmente uma cidade moldada em torno de sua força militar. Na lenda envolvendo o pai fundador da cidade, Rômulo, um de seus primeiros feitos foi a formação de regimentos conhecidos como legiões.
Embora os romanos não se destacassem por sua coragem em relação aos seus inimigos, e parte significativa de seu equipamento fosse adaptado dos adversários, o diferencial crucial residia em sua disciplina. Essa disciplina era fundamentada em uma estrutura rígida, garantindo que cada soldado soubesse seu papel e dever, mesmo em meio ao caos do combate corpo a corpo.
As Origens do Exército Imperial
O alicerce do Exército Imperial, por volta de 100 d.C., foi estabelecido pelo primeiro imperador, Augusto (que governou de 30 a.C. a 14 d.C.). Ele tomou a decisão inicial de reduzir o exército, que havia atingido um número insustentável de 50 legiões durante as guerras civis, para aproximadamente 25.
Augusto almejava soldados profissionais em vez dos civis armados da era republicana. Os recrutas foram substituídos por voluntários, embora com períodos de serviço mais longos. A cidadania romana ainda era um requisito para servir em uma legião.
O imperador também reformulou a cadeia de comando, introduzindo o cargo de legado, um comandante de longo prazo para cada legião. Os comandantes aristocráticos tradicionais perderam status, e um praefectus castrorum (prefeito do acampamento) foi designado para supervisionar as operações logísticas.
Um Exército de Cidadãos e Súditos
Quando as legiões romanas se movimentavam, as unidades cidadãs de elite eram frequentemente acompanhadas por um número equivalente de auxiliares, designação para os soldados não cidadãos. O serviço auxiliar, com duração de 25 anos, proporcionava uma via para a cidadania, encurtada por atos notáveis de bravura.
Os auxiliares eram organizados em coortes de 500 homens em formações de infantaria, cavalaria e mistas. Esses soldados muitas vezes provinham da mesma região ou tribo, podendo, por um tempo, terem fornecido suas próprias armas. Recebiam menos benefícios em comparação aos legionários, e menos atenção era dedicada à sua organização.
A Anatomia de uma Legião
Muitas das Reformas Marianas de Caio Mário no século II a.C. permaneceram em vigor até o século III d.C., incluindo a estrutura da legião definida por esse líder que salvou Roma da invasão de tribos alemãs.
Uma legião consistia em cerca de 5.200 homens combatentes, subdivididos em unidades menores. Oito legionários formavam um contubernium, liderado por um decano. Eles compartilhavam barracas, mulas, pedras de moagem e panelas.
Dez dessas unidades compunham uma centúria, liderada por um centurião e seu segundo no comando, um.
Seis centúrias formavam uma coorte, sendo liderada pelo centurião mais sênior. Uma primeira coorte era composta por cinco centúrias de tamanho duplo, sendo liderada pelo centurião mais velho da legião, conhecido como Primus Pilus, representando a elite da legião.
Centúrias ou grupos delas poderiam ser destacados para propósitos especiais, formando vexilatio com seu próprio comando.
Por Terra e por Mar
Os oficiais geralmente se deslocavam a cavalo, e Augusto possivelmente estabeleceu uma força montada de 120 homens em cada legião, frequentemente empregada para reconhecimento. As operações de cavalaria, em grande parte, eram conduzidas pelos auxiliares, cujas tropas montadas possivelmente recebiam uma remuneração superior à dos legionários convencionais, conforme indicado por Arriano (86 – 160 d.C.), soldado e escritor.
Sem uma tradição marítima, os romanos foram impulsionados para a guerra naval, desenvolvendo proficiência por necessidade, inclusive com o uso de navios capturados.
Augusto considerou a marinha de 700 navios, herdada das guerras civis, como sua propriedade pessoal, designando escravos e libertos para remar e manobrar as velas. À medida que o Império se expandia, esquadrões navais adicionais foram formados para proteger grandes rios, como o Danúbio. O abastecimento de grãos importados da África também exigia que os romanos mantivessem o Mediterrâneo desimpedido para o comércio.
O comando de uma frota, como praefecti, estava reservado exclusivamente aos equestres romanos, uma das três classes da nobreza romana. Abaixo deles estavam os navios liderados por hierarcas, agrupados em esquadrões de provavelmente 10 navios. A tripulação era guiada por centuriões e ótios, refletindo a visão romana dos navios como plataformas flutuantes para a infantaria.