Durante o período medieval, as universidades européias possuíam um currículo relativamente uniforme, embora houvesse variações regionais e institucionais. Esse currículo era amplamente baseado nas ideias educativas da Grécia e Roma antigas, refletindo uma tradição acadêmica que valorizava tanto as artes liberais quanto as ciências.
As Sete Artes Liberais
O ponto de partida para qualquer estudante universitário medieval era o estudo das Sete Artes Liberais, que se dividiam em duas partes principais: o Trivium e o Quadrivium. O Trivium incluía Gramática, Retórica e Lógica, enquanto o Quadrivium compreendia Aritmética, Astronomia, Geometria e Música. A conclusão desses estudos geralmente leva de 8 a 9 anos.
O Trivium
- Gramática Desde a infância, meninos começaram a aprender gramática, e ao chegar à universidade, esperava-se que tivessem um bom conhecimento gramatical. No entanto, um ano de estudo universitário em gramática era necessário, focando na arte de falar, escrever e pronunciar corretamente. Análise de textos, memorização e produção de escritos eram atividades comuns.
- Retórica A retórica ensinava os alunos a se expressarem clara e persuasivamente, uma habilidade valiosa, especialmente para clérigos que precisavam fazer sermões compreensíveis. Apesar de sua utilidade prática, a retórica não era uma parte fundamental do currículo e muitas vezes era ensinada apenas em dias de festividades.
- Lógica Estudar lógica envolvia principalmente os escritos de Aristóteles e Boécio, focando em conceitos como a lógica tópica de Aristóteles, que permitia a aceitação de verdades comuns sem evidências claras. Alguns historiadores consideram a lógica a arte liberal mais crucial, eclipsando outras disciplinas do Trivium.
O Quadrivium
- Aritmética A aritmética medieval baseava-se nos ensinamentos gregos, mas durante o Renascimento do Século XII, o sistema numérico hindu-árabe foi introduzido na Europa, substituindo os numerais romanos e introduzindo o conceito de zero. Palestras incluíam propriedades dos números e álgebra rudimentar.
- Astronomia Na Idade Média, a astronomia e a astrologia eram praticamente indistinguíveis. Os estudiosos calculavam as posições dos planetas e utilizavam esses cálculos para prever o futuro ou explicar eventos passados. Médicos medievais frequentemente consultavam as estrelas para prognósticos de saúde.
- Geometria A geometria medieval focava na medição da Terra, incluindo seu tamanho, forma e posição no universo. Este conhecimento era crucial para geógrafos, cartógrafos e arquitetos.
- Música O estudo da música nas universidades medievais centrava-se na composição melódica, baseada em números e proporções. A música tinha um papel importante no culto religioso, sendo a maioria dos estudantes universitários clérigos.
As Faculdades Superiores
Após concluir o estudo das Sete Artes Liberais, um estudante podia optar por continuar em uma das faculdades superiores: Teologia, Medicina ou Direito.
- Teologia Antes do desenvolvimento das universidades, a teologia era estudada principalmente em ordens religiosas. Com a introdução nas universidades, o ensino da teologia passou a ser fortemente controlado pela Igreja, necessitando de dispensa papal. O currículo era rigorosamente monitorado, como evidenciado pelas 219 proposições heréticas condenadas pelo bispo de Paris em 1277.
- Medicina O ensino médico medieval era centrado na teoria humoral, que postulava que o corpo humano consistia em quatro humores: sangue, fleuma, bile preta e bile amarela. O desequilíbrio desses humores causava doenças. Os estudos incluíam obras de Avicena, Galeno e Hipócrates. Universidades como Bolonha, Montpellier e Paris se destacaram pela ênfase na medicina prática.
- Direito O direito medieval dividia-se em direito canônico e civil. O direito canônico era utilizado pela Igreja em seus tribunais, enquanto o direito civil era aplicado pelos governos seculares. Algumas universidades, como Paris, proibiam o estudo do direito civil, obrigando estudantes a buscar outras instituições para esse conhecimento.
Conclusão
As universidades medievais europeias desempenharam um papel crucial na preservação e transmissão do conhecimento antigo, adaptando e expandindo esse legado para atender às necessidades de uma sociedade em transformação. O currículo, baseado nas Sete Artes Liberais, preparava os estudantes para estudos avançados nas faculdades superiores, moldando intelectualmente gerações de pensadores, clérigos, médicos e juristas. Este sistema educacional não só refletia, mas também contribui para o dinamismo cultural e intelectual da Idade Média, cuja influência se estende até os dias atuais.