A figura do Papa Francisco transcende a liderança espiritual. Desde sua eleição em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio trouxe novos ares à Igreja Católica. Seu carisma, sua defesa dos mais vulneráveis e sua abordagem direta sobre temas contemporâneos — como tecnologia, aborto, homossexualidade e drogas — conquistaram o mundo e revitalizaram a popularidade da instituição. Mas, para além das reformas, algumas vozes especulam que ele pode ser muito mais do que o “papa da mudança”. Para os mais atentos às profecias antigas, ele seria o último papa antes de um possível Apocalipse.
Esse tipo de leitura simbólica não é novidade na história. Desde a Idade Média, figuras proféticas como Nostradamus e São Malaquias alimentam o imaginário popular com suas previsões. Curiosamente, essas profecias parecem convergir em torno de um personagem muito semelhante ao Papa Francisco. Seria ele, de fato, o papa final? Vamos explorar os fatos, as interpretações e, claro, as armadilhas históricas dessas previsões.
O Papa Francisco: Um Homem de Símbolos
Antes de entrar nas profecias, é essencial entender por que Francisco provoca tanta atenção. Filho de imigrantes italianos, nascido em Buenos Aires, ele é o primeiro papa latino-americano e o primeiro a adotar o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. Sua eleição foi um marco não apenas pela origem geográfica, mas pela ruptura simbólica com uma longa tradição eurocêntrica.
Desde o primeiro momento, o novo pontífice mostrou-se diferente: recusou a suntuosidade, preferiu viver em uma residência modesta e adotou uma retórica de inclusão. Essas atitudes lhe renderam uma enorme popularidade, mas também levantaram questões entre setores mais conservadores da Igreja.
O que muitos enxergam como um papa renovador, outros interpretam como o cumprimento de antigas profecias de fim de mundo.
Profecia de São Malaquias: O Último Papa?
A chamada Profecia de São Malaquias consiste em uma lista de 112 lemas curtos em latim, que, supostamente, descrevem todos os papas desde Celestino II (1143–1144) até o fim da Igreja Católica. De acordo com o texto atribuído ao arcebispo irlandês Malaquias, o último papa seria conhecido como Petrus Romanus (Pedro, o Romano).
A descrição de Petrus Romanus é breve, mas contundente:
“Na última perseguição à Santa Igreja Romana, reinará Pedro, o Romano, que apascentará o seu rebanho entre muitas tribulações. Após as quais, a cidade das sete colinas será destruída e o terrível Juiz julgará o seu povo.”
Francisco, como o 112º papa desde Celestino II, seria esse último líder. Apesar de não se chamar Pedro nem ser romano de nascimento, algumas interpretações sugerem que sua origem italiana por parte de pai o conectaria simbolicamente ao nome “Pedro”.
Nostradamus e o “Papa Negro”
O profeta francês Nostradamus, famoso por suas quadras enigmáticas, também teria mencionado um evento apocalíptico ligado a um papa descrito como “o rei negro”. A quadra mais citada sobre o tema diz:
“No fim dos tempos, o rei negro será coroado. Catástrofes seguirão: pestes, guerras e mudanças climáticas devastaram o mundo.”
Muitos associam essa descrição ao Papa Francisco. Não pelo tom de pele — o que seria uma leitura literal demais para Nostradamus —, mas pela interpretação simbólica. O “negro” poderia se referir à escuridão que envolveu sua eleição. Vale lembrar que, no dia do conclave, um evento inusitado chamou a atenção: a luz da Basílica de São Pedro apagou-se repentinamente.
Sinais e Coincidências: Relâmpagos e Gaivotas
A eleição de Francisco foi marcada por uma série de eventos que, para alguns, têm significados místicos. O mais famoso deles ocorreu pouco após a renúncia de Bento XVI, quando um raio atingiu a cúpula da Basílica de São Pedro. A imagem circulou o mundo, alimentando especulações.
Outro evento curioso foi a aparição de uma gaivota pousada sobre a chaminé da Capela Sistina, pouco antes de a fumaça branca anunciar a escolha do novo papa. Para muitos, a cena foi apenas um momento curioso; para os mais supersticiosos, um sinal.
Numerologia e a Data da Eleição
Além dos eventos simbólicos, numerólogos apontaram coincidências na data da eleição de Francisco: 13/03/2013. Esse padrão numérico, segundo algumas interpretações, representa um ciclo de renovação e transição espiritual. A eleição ocorreu na terceira votação do conclave, reforçando o simbolismo do número três.
Interpretação Histórica ou Mística?Do ponto de vista histórico, é essencial lembrar que interpretações proféticas como as de Nostradamus e São Malaquias costumam ser adaptadas para se encaixar em eventos contemporâneos. O historiador Bernard McGinn, especialista em apocalipticismo, destaca que o medo do fim dos tempos é um fenômeno recorrente, especialmente em períodos de crise política e social.
A Igreja Católica nunca reconheceu oficialmente a autenticidade dessas profecias. Pelo contrário, muitos estudiosos classificam como fraudes históricas criadas para fins políticos, principalmente a Profecia de São Malaquias, que teria sido escrita no século XVI para influenciar o conclave de 1590.
Independentemente da veracidade das profecias, o fascínio que elas despertam é compreensível. Vivemos tempos de incertezas, e figuras como o Papa Francisco, com seu papel simbólico e real, acabam catalisando interpretações proféticas.
Mais do que buscar sinais do fim dos tempos, talvez devêssemos olhar para o presente e refletir sobre o que Francisco representa: um momento de transição, sim, mas também de esperança e mudança. Afinal, como a história nos ensina, os verdadeiros apocalipses são aqueles que escolhemos não enfrentar.