Leitura de História

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Philippa de Hainault: A Rainha que Definiu uma Era

Nascida entre fevereiro e março de 1314, Philippa de Hainault era a terceira filha de William, conde de Hainault, Holanda e Zelândia (atualmente Bélgica e Países Baixos), e Jeanne de Valois, uma figura proeminente da nobreza francesa, neta de Filipe III da França, sobrinha de Filipe IV e irmã de Filipe VI. Esta conexão com a realeza foi crucial para a formação de alianças políticas e influências que moldaram o futuro da Inglaterra e da França.

A família de Philippa estava profundamente entrelaçada com as dinastias europeias. Sua irmã mais velha, Margarida de Hainault, casou-se com Ludwig von Wittelsbach, Sacro Imperador Romano-Germânico, rei da Alemanha e Itália, e duque da Baviera. Outra irmã, Johanna, uniu-se a Wilhelm, duque de Jülich, uma região atualmente dividida entre Alemanha e Países Baixos. O irmão mais novo, Willem, sucedeu seu pai como conde de Hainault, Holanda e Zelândia em 1337. Enquanto isso, seu tio materno Philip de Valois tornou-se Filipe VI da França em 1328, marcando o início da dinastia Valois.

O Casamento com Eduardo III

A vida de Philippa tomou um rumo decisivo em 27 de agosto de 1326, quando foi prometida em casamento a Eduardo de Windsor, filho e herdeiro do rei Eduardo II da Inglaterra. Este acordo foi facilitado pela rainha Isabel da França, que, buscando derrubar o infame Hugh Despenser, o Jovem, e seu marido Eduardo II, fez um pacto com o conde Willem de Hainault. O objetivo era garantir que Philippa se casasse com seu filho e se tornasse rainha da Inglaterra, em troca de apoio na invasão da Inglaterra por Isabel.

O plano foi bem-sucedido: Despenser foi executado em novembro de 1326, e Eduardo II foi forçado a abdicar em janeiro de 1327, sendo sucedido por seu filho, Eduardo III. Um ano após sua ascensão, em janeiro de 1328, o jovem rei, com apenas quinze anos, casou-se com Philippa em York. De acordo com o cronista flamengo Jean Froissart, ela tinha treze ou quatorze anos na época.

Desafios Iniciais e Relações Familiares

Os primeiros anos do casamento foram marcados por dificuldades. Durante a minoria de Eduardo III, sua mãe, a rainha viúva Isabel, governou como regente e se recusou a conceder terras ou rendimentos a Philippa até fevereiro de 1330, dois anos após o casamento. Foi somente nesse mês que Philippa foi finalmente coroada rainha da Inglaterra na Abadia de Westminster, já grávida de cinco meses de seu filho mais velho, Edward de Woodstock, futuro Príncipe Negro.

Eduardo III, com menos de dezoito anos, depôs sua mãe e seu conselheiro principal, Roger Mortimer, em outubro de 1330, começando a governar por conta própria. A partir desse momento, Philippa se tornou rainha não apenas de nome, mas também de fato.

Um Casamento Prolongado e Dedicado

Philippa e Eduardo III tiveram um casamento que durou mais de quarenta anos, caracterizado por uma profunda dedicação mútua. O casal teve doze filhos, cinco filhas e sete filhos, entre junho de 1330 e janeiro de 1355, embora apenas cinco deles sobrevivessem até a idade adulta. A análise das movimentações do casal revela que eles passaram a maior parte do tempo juntos e mantiveram uma comunicação constante, enviando cartas e presentes quando estavam separados. Eduardo dirigia-se a Philippa como “meu coração muito doce”.

Embora não fosse comum na Inglaterra que a rainha atuasse como regente na ausência do rei, Philippa exerceu uma significativa influência nos bastidores. Ela às vezes abriu o parlamento quando Eduardo estava fora do país, ajudou a negociar casamentos para seus filhos e frequentemente intercedeu com seu marido em nome de outros.

Conflitos e Lealdades Divididas

Em 1337, Eduardo III reivindicou o trono da França, iniciando um longo conflito que mais tarde se tornaria conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Essa reivindicação colocou Eduardo contra a família materna de Philippa, já que Filipe VI, o titular do trono francês, era primo em primeiro grau da mãe de Eduardo e tio de Philippa.

Apesar dessa divisão, Philippa permaneceu leal a seu marido. Em 1338, ela enviou um menestrel a Paris para investigar secretamente as ações de Filipe VI, demonstrando uma habilidade política sutil e eficaz. Na Batalha de Crécy, em agosto de 1346, Eduardo III obteve uma vitória decisiva sobre os franceses, resultando na morte de vários parentes de Philippa, incluindo seu tio, o conde de Alençon, e seus primos, o conde de Blois e o rei da Boêmia.

A Rainha Misericordiosa

Philippa esteve ao lado de Eduardo III durante o cerco de Calais em 1346-1347. Uma das histórias mais notáveis sobre Philippa envolve sua intervenção durante o cerco. Quando Eduardo decidiu enforcar o prefeito e vários burgueses de Calais como punição, Philippa se ajoelhou e implorou pela sua misericórdia. Embora a história frequentemente retrata Philippa como a salvadora dos burgueses, é mais provável que Eduardo já tivesse decidido poupá-los, e a intervenção de Philippa tenha ajudado a criar uma narrativa memorável para a posteridade.

Últimos Anos e Legado

Poucas cartas de Philippa sobreviveram, mas uma de dezembro de 1368 revela seu envolvimento nas políticas de casamento de seu filho João de Gante, duque de Lancaster. Ela negociou um possível casamento entre João e Margarida de Flandres, filha do conde de Flandres, embora Margarida já estivesse prometida ao duque da Borgonha. A resposta cortês do conde de Flandres demonstra o respeito que Philippa ainda comandava, mesmo no final de sua vida.

Philippa sofreu uma grave queda de cavalo em 1358, que resultou em uma fratura na omoplata e causou dor constante até sua morte. Ela faleceu no Castelo de Windsor em 15 de agosto de 1369 e foi enterrada na Abadia de Westminster em 9 de janeiro de 1370. Philippa foi amplamente comentada e elogiada por sua nobreza e cortesia. Thomas Walsingham, cronista de St Albans, descreveu-a como “a mulher mais nobre”, enquanto Jean Froissart a considerou “a rainha mais cortês, nobre e liberal que já reinou”. Seu legado é um testemunho de sua influência duradoura e do impacto significativo que teve na Inglaterra e na Europa medieval.

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