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Principais Batalhas da Guerra dos Cem Anos: De Crécy a Castillon

Durante a Idade Média, a Inglaterra e a França estiveram envolvidas em um conflito quase contínuo que se estendeu por impressionantes 116 anos. Este período de guerra, que atravessou cinco gerações de reis e foi marcado por um dos maiores conflitos dinásticos da Europa, é conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Esta guerra começou formalmente quando Eduardo III da Inglaterra desafiou seu vizinho poderoso, o reino francês, em uma luta pelo domínio europeu. Abaixo estão algumas das principais batalhas que moldaram e definiram essa longa e complexa guerra.

  1. A Batalha de Crécy: 26 de agosto de 1346

Em 1346, Eduardo III, rei da Inglaterra, lançou uma invasão da França através da Normandia, tomando o porto de Caen e devastando o norte da França com sua marcha destrutiva. Ao saber que o rei Filipe VI da França estava reunindo um exército para confrontá-lo, Eduardo decidiu se mudar para o norte, estabelecendo seu acampamento na pequena floresta de Crécy. Esse movimento estratégico visava se posicionar de forma vantajosa para enfrentar o inimigo.

Apesar de serem significativamente superados em número pelos franceses, os ingleses se beneficiaram enormemente do uso do arco longo. Este tipo de arma, que podia disparar a cada cinco segundos, provou ser decisivo na batalha. A habilidade dos arqueiros ingleses, muitos dos quais eram veteranos da batalha de Crécy, causou pesadas baixas entre os soldados franceses. Eventualmente, Filipe VI, ferido e derrotado, foi forçado a recuar. Esta vitória decisiva permitiu que os ingleses capturassem o porto de Calais, que se tornou uma valiosa posse inglesa pelos próximos duzentos anos.

  1. A Batalha de Poitiers: 19 de setembro de 1356

No ano de 1355, o herdeiro da Inglaterra, Edward, conhecido como o Príncipe Negro, desembarcou em Bordeaux, enquanto o Duque de Lancaster desembarcou com uma força adicional na Normandia e começou a empurrar para o sul. Eles enfrentaram o novo rei francês, João II, que conseguiu forçar Lancaster a se retirar em direção à costa antes de perseguir os ingleses até Poitiers.

Apesar de estar em desvantagem numérica, o Príncipe Negro demonstrou uma habilidade militar notável. A batalha foi novamente marcada pelo uso eficaz dos arqueiros ingleses, que infligiram pesadas perdas ao exército francês. A captura do rei João II, juntamente com a derrota francesa, resultou em uma vitória significativa para os ingleses. O episódio, muitas vezes conhecido como o episódio eduardiano, é geralmente visto como uma fase crucial da guerra, encerrando o primeiro período do conflito com um impacto profundo nas relações entre os dois reinos.

  1. A Batalha de Agincourt: 25 de outubro de 1415

Durante o reinado de Henrique V, a Inglaterra procurou reavivar suas reivindicações na França, especialmente após o fracasso das negociações para um pagamento de resgate. Henrique V invadiu a Normandia e sitiou Harfleur. Embora as forças francesas não tenham conseguido aliviar o cerco a tempo, elas pressionaram os ingleses para uma batalha em Agincourt.

Apesar de serem supostamente em menor número, os ingleses aproveitaram o terreno lamacento, que prejudicou a eficácia das armaduras pesadas dos franceses. Sob a rápida e implacável ação dos arqueiros ingleses, que disparavam com precisão, os franceses sofreram pesadas baixas. A vitória inesperada em Agincourt não apenas consolidou o controle de Henrique sobre a Normandia, mas também fortaleceu a dinastia Lancastriana. A batalha é famosa por sua representação na peça Henrique V de Shakespeare e continua a ser uma referência icônica na história inglesa.

  1. O Cerco de Orléans: 12 de outubro de 1428 – 8 de maio de 1429

Uma das maiores reviravoltas na Guerra dos Cem Anos veio graças a Joana d’Arc, uma jovem camponesa que alegava ter recebido ordens divinas para liderar a França à vitória. Com a ajuda de um exército, Joana levantou o cerco de Orléans, uma cidade crucial tanto militar quanto simbolicamente para os franceses. Sua ação não apenas revitalizou a moral francesa, mas também permitiu a coroação do príncipe Carlos VII em Reims.

Apesar de sua vitória significativa, Joana foi eventualmente capturada pelos burgúndios e entregue aos ingleses, que a executaram. A cidade de Orléans e seu cerco representaram um ponto de virada importante na guerra, com a subsequente coroação de Carlos VII marcando o fortalecimento da posição francesa.

  1. A Batalha de Castillon: 17 de julho de 1453

Sob o reinado de Henrique VI, a Inglaterra sofreu um revés significativo. Uma tentativa de recuperar os ganhos territoriais foi esmagada na Batalha de Castillon, onde a liderança deficiente do Conde de Shrewsbury, John Talbot, resultou em uma derrota devastadora. Este confronto é notável por ser uma das primeiras batalhas na Europa onde a artilharia de campo, especificamente canhões, desempenhou um papel crucial.

A derrota em Castillon selou o destino da Inglaterra na França, com a perda de quase todos os territórios ingleses, exceto Calais, que continuaria sob controle inglês até 1558. O evento também contribuiu para o colapso mental de Henrique VI, exacerbando ainda mais a instabilidade interna na Inglaterra. A batalha é amplamente considerada como o fim da Guerra dos Cem Anos, embora a sua conclusão não tenha sido imediatamente clara para os contemporâneos.

A Guerra dos Cem Anos, com suas batalhas épicas e mudanças dinásticas, não apenas moldou o destino da Inglaterra e da França, mas também deixou um legado duradouro na história europeia. As vitórias e derrotas dessas campanhas ilustram a complexidade e o impacto do conflito, que ajudou a definir a trajetória dos dois reinos e a evolução das relações internacionais na Europa medieval.

Eduardo, o Príncipe Negro, recebendo o Rei João da França após a Batalha de Poitiers por Benjamin West.
Eduardo, o Príncipe Negro, recebendo o Rei João da França após a Batalha de Poitiers por Benjamin West.


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