A besta e o arco longo são duas das armas de longo alcance mais icônicas que vêm à mente quando pensamos na guerra medieval. Embora ambos tenham se originado nos tempos antigos, foi durante a Idade Média que essas armas entraram em seu elemento, tornando-se tão mortais e poderosas que poderiam penetrar até mesmo na armadura de ferro ou aço de um cavaleiro medieval. Ambos eram letais no teatro de guerra medieval, mas tinham diferenças significativas.
O tempo necessário para treinar um recruta nessas duas armas variava consideravelmente. Aprender a usar um arco longo demandava uma quantidade significativa de tempo e uma vida inteira para dominar. Isso se devia em grande parte ao peso pesado da arma. Um típico arco longo inglês durante o período medieval tinha cerca de seis pés de comprimento e era feito de madeira de teixo, a melhor madeira disponível nas Ilhas Britânicas. Para ser usado efetivamente contra cavaleiros fortemente blindados, um arqueiro precisava puxar a corda do arco até a orelha, o que exigia uma força considerável. Naturalmente, isso necessitava de muito treinamento e disciplina. Durante o século XIII, por exemplo, uma lei foi introduzida na Inglaterra tornando obrigatório que os homens participassem do treinamento de arco longo todos os domingos para garantir que o exército tivesse um suprimento pronto de arqueiros operacionais. Os longbowmen, portanto, eram arqueiros treinados, muitos dos quais passavam anos aperfeiçoando sua habilidade com essa arma mortal.
Aprender a usar uma besta de forma eficiente, por outro lado, era uma tarefa muito menos demorada. A natureza mecânica desta arma de disparo de parafuso reduzia o esforço e a habilidade necessários para usá-la e, ao contrário de suas contrapartes de arco longo, os portadores da besta não precisavam ser fortes para retirar sua corda de arco. Em vez disso, os besteiros geralmente usavam um dispositivo mecânico, como um estribo, para puxar a corda do arco para trás. Antes de tais dispositivos serem introduzidos, os homens de besta tinham que usar as pernas e o corpo para puxar a corda do arco para trás. Como resultado, enquanto se tornar um atirador de arco longo exigia anos de treinamento, um camponês não treinado podia aprender a usar uma besta de forma eficaz muito rapidamente. Apesar disso, a besta era uma ferramenta cara, e seus principais usuários geralmente eram mercenários bem treinados.
Batalhas em Campo
A besta pode ter sido mais fácil de usar do que o arco longo, mas isso não a tornava mais eficaz no campo de batalha aberto. Na verdade, durante as batalhas em campo, o arco longo tinha uma clara vantagem. Não só um arco longo podia disparar mais longe do que uma besta – pelo menos até a segunda metade do século XIV – mas a taxa média de fogo de um arqueiro com arco longo era significativamente maior do que a de um besteiro. Os melhores arqueiros podiam disparar uma flecha a cada cinco segundos com precisão. No entanto, essa taxa de fogo não podia ser mantida por longos períodos; estima-se que um longbowman treinado pudesse disparar cerca de seis flechas por minuto durante períodos prolongados.
Um besteiro, por outro lado, só podia disparar a cerca de metade da velocidade de um longbowman e, em média, não conseguia disparar mais do que três ou quatro parafusos por minuto. Seu tempo de recarga mais lento se devia à necessidade de usar dispositivos mecânicos para puxar a corda do arco antes de carregar o parafuso e disparar a arma, o que custava segundos preciosos. Na Batalha de Crécy, por exemplo, os inúmeros voleios dos longbowmen ingleses quebraram os besteiros genoveses, que totalmente haviam deixado seus escudos de pavise no acampamento francês.
Guerra de Castelo
Embora a taxa de fogo mais rápida do arco longo lhe desse uma vantagem significativa no campo de batalha aberto, a besta era preferida como arma defensiva, especialmente na defesa de guarnições de castelo. As defesas de um castelo removiam o problema da velocidade de recarga mais lenta da besta, pois ofereciam ao portador ampla cobertura enquanto instalava um novo parafuso na arma – um luxo que os besteiros raramente tinham no campo de batalha. Muitas guarnições de castelo, portanto, priorizavam o uso de bestas, além de garantir que tivessem estoques adequados de munição. No posto avançado inglês fortemente defendido em Calais, até 53.000 parafusos foram mantidos em estoque.Em resumo, tanto a besta quanto o arco longo desempenharam papéis cruciais na guerra medieval, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens. O arco longo exigia anos de treinamento e força física, mas oferecia uma taxa de fogo superior e maior alcance, tornando-se ideal para batalhas em campo aberto. A besta, por outro lado, era mais fácil de usar e exigia menos treinamento, tornando-se uma arma eficaz para defesa de castelos e para uso por mercenários. Essas diferenças destacam como cada arma foi adaptada para diferentes aspectos da guerra medieval, refletindo a complexidade e a evolução das táticas militares da época.