Leitura de História

Leitura de História

Quem Foi Hipácia de Alexandria.

Considerada a primeira mulher matemática da história mundial, defensora da teoria do heliocentrismo, sua morte marca o início de um período de intolerância e perseguições entre o cristianísmo e as outras culturas antagônicas ao seu modo de pensar.

Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos:

“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”

Quem foi a Hipácia de Alexandria ?

Nascida em Alexandria, no Egito-Romano, no ano de 355 da era cristã. Em Alexandria, centro cultural do classicismo romano predominava a filosofia neoplatônica.

Hipátia ou Hipácia de Alexandria, era filha de Teonte, o último curador da biblioteca de Alexandria, e Hipácia era sua bibliotecária, ela era conhecida pela sua sabedoria, principalmente em astronomia.

Foi considerada a primeira mulher matemática, foi chefe da escola platônica de Alexandria, posto conquistado quando ela tinha 30 anos de idade.

Hipácia tinha uma forte ligação com o pai, que era um renomado filósofo, astrônomo e matemático de seu tempo. Acredita-se que do pai Hipátia herdou a forte tendência ao questionamento, a paixão pela busca de respostas, bem como a forte disciplina física característica dos helenistas. (Mente sã em um corpo sadio)

Alguns autores acreditam que quando jovem, viajou para Atenas para completar seus estudos, onde se empenhou em unir as teorias matemáticas de Diofanto com o neoplatonismo de Amônio Sacas e Plotino. Também em Atenas recebeu forte influência da doutrina de Plutarco.

A Obra de Hipácia.

Nenhuma obra completa de Hipátia sobreviveu aos dias atuais, o que temos são referências e comentários em outras obras, principalmente a co-autoria nas obras de seu pai, uma característica típica da produção feminina em seu tempo.

Sua história foi preservada, principalmente pelas cartas de seus alunos e admiradores mais influentes, como Hesíquio, o Hebreu e Sinésio, Bispo de Cirene.

A ela é atribuída a obra o Cânone Astronômico e um comentário sobre a Seção Cônica de Apolônio.

Um de seus alunos mais notáveis foi o Bispo Sinésio de Cirene (370-413), que lhe escrevia cartas pedindo conselhos, é através dessas cartas que sabemos que Hipácia desenvolveu alguns instrumentos usados na física e astronomia, como o astrolábio, o planisfério e o hidrômetro.

Sabe-se que desenvolveu estudos sobre álgebra de Diofanto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu, em parceria com seu pai, escreveu um tratado sobre Euclides.

Uma Personalidade Marcante.

Hipácia era articulada e eloquente nos discursos que fazia, ao mesmo tempo prudente e civilizada no agir.

Com seu capuz de filósofa, ela andava nas ruas da cidade interpretando Platão, Aristóteles ou obras de outros filósofos clássicos. É o que relatou um de seus alunos, Hesíquio, o Hebreu.

Hipácia era muito bonita e preservava sua castidade, porém era uma mulher pagã num mundo cada vez mais cristão e preconceituoso.

“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que quisessem ouvi-la. Os magistrados costumam consultá-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”. (Hesíquio, O Hebreu )

Hipácia nunca casou-se nem teve filhos, dizia-se casada com a verdade em nome dessa empregava qualquer sacrifício, não aceitando que nada se colocasse entre sua busca e a verdade, inclusive a religião.

O Conflito com o Bispo.

A sorte de Hipátia começou a mudar quando em 412, Cirilo foi nomeado Patriarca de Alexandria, um título de autoridade na igreja cristã, semelhante aos que já existiam em Constantinopla e Jerusalém.

O reinado do Imperador Teodósio (379-392), é iniciado o processo de consolidação da religião cristã como rito oficial do império romano, em 391, atendendo o pedido do Patriarca Teófilo, antecessor de Cirilo, ele manda destruir o templo de Serápis em Alexandria, um templo pagão, onde eram oferecidos sacrifícios de sangue. Nessa época os conflitos entre cristaos e pagão se intensificaram nas ruas de Alexandria. A liberdade de pensamento em Alexandria começava a ser seriamente comprometida.

Cirilo, era um cristão radical, fervoroso no combate às heresias, especialmente o nestorianismo, tinha inveja da beleza e do intelecto de Hipátia. Essa é a visão do historiador Damásio, embora exista em sua obra um caráter extremamente anti-cristão.

Sendo assim planejou a sua morte. Na primavera de 415, um grupo de monges a espancou na rua até a morte, depois arrastaram seu corpo até a igreja e esfolaram sua carne até os ossos com conchas e espalharam tudo pela cidade. Depois desse fato, incendiaram a grande biblioteca.

Sócrates, o Escolástico, acredita que isso aconteceu depois que Orestes, o prefeito de Alexandria, mandou executar o monje cristão Amônio. Devido a influência intelectual que Hipátia exercia sobre o prefeito, acredita-se que ela tenha sido escolhida como um alvo de retaliação ao ato.

Outras fontes mais atuais, levantam a hipótese de na época haver um conflito em duas facções cristãs, uma moderada ligada a Orestes e outra mais radical, ligada a Cirilo, obviamente.

O conflito entre partidos cristãos alcançou proporções alarmantes nos anos 414-415. Orestes resistiu tenazmente às tentativas de Cirilo de invadir áreas de competência do poder civil.

Manteve-se intransigente até mesmo no momento em que Cirilo tentou fazer as pazes. Cresceu entre os adeptos de Cirilo a suspeita de que Hipátia, amiga do prefeito, incitou e encorajou a resistência daquele. O patriarca sentiu-se ameaçado, e surgiram membros de vários grupos ligados à Igreja decididos a apoiá-lo.

Os monges organizaram uma agressão contra Orestes, e os seguidores de Cirilo montaram insidiosamente uma intriga, difundindo rumores segundo os quais Hipátia se servia dos seus conhecimentos de magia e de práticas sacrílegas satânicas para manter sob a sua influência o prefeito, «o povo de Deus» e o conjunto da cidade. A luta entre o patriarca e o prefeito em torno do poder político e da influência da Igreja sobre os assuntos seculares acabou por levar à morte de Hipátia. Hipátia é assassinada por partidários que servem a causa de Cirilo. A sua morte foi um crime político provocado por conflitos persistentes que se faziam sentir em Alexandria. Por meio da ação criminosa era eliminado um poderoso apoio de Orestes. O próprio Orestes não só desistiu da sua luta contra o patriarca, como deixou definitivamente Alexandria.” (Maria Dzielska – Em Hipácia de Alexandria)

O certo é o caráter extremamente violento da população de Alexandria, sendo responsável pela morte inclusive de dois bispos cristãos, Jorge de Laodiceia (361) e Protério (457).

Conclusão

Muitos historiadores consideram a morte de Hipácia como o marco simbólico, para o fim da antiguidade clássica e início da idade média.

Talvez Hipácia não tenha sido realmente uma feiticeira, nem mesmo pagã ela acreditava ser, estando mais para cética, mas devido ao seu martírio fica em grande parte motivado por motivos religiosos, fica aqui a nossa referência, a uma das primeira mártires do então agonizante paganismo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *