Leitura de História

William B. Travis: O Último Comando no Álamo

Na iconografia americana, o Álamo se tornou mais do que uma batalha: virou símbolo de resistência, sacrifício e espírito indomável da fronteira. E no coração dessa lenda está William Barret Travis, um jovem advogado do Alabama que, aos 26 anos, enfrentou 2.000 soldados mexicanos com uma espada em uma mão e uma pena na outra.

Ele não viveu o suficiente para ver a liberdade do Texas. Mas antes de morrer, deixou uma carta ao mundo — talvez o mais célebre chamado ao heroísmo da história americana. Numa guerra marcada por homens brutos e momentos épicos, Travis brilhou com intensidade de estrela cadente.

Um Jovem do Velho Sul

 

William B. Travis nasceu em 1809 na Carolina do Sul e cresceu no Alabama. Era filho do Sul, mas de espírito inquieto. Casou-se jovem, teve um filho, mas sua vida profissional e pessoal se tornaram insatisfatórias. Aos 20 e poucos anos, abandonou tudo — família, carreira, reputação — e seguiu rumo ao oeste, como tantos outros americanos movidos por promessas de terra, aventura e reinvenção.

Chegou ao Texas em 1831, então parte do México, e se estabeleceu como advogado em Anáhuac. Ali, logo se envolveu em conflitos com autoridades mexicanas — preso uma vez por insubordinação, tornou-se símbolo da resistência anglo-americana ao controle central.

Travis não era apenas um aventureiro. Era idealista. Acreditava, com fervor quase religioso, na liberdade, na autodeterminação e no destino da América. Foi essa convicção que o levou ao Álamo.

Comandante Relutante, Líder Destemido

 

Em fevereiro de 1836, o velho missionário fortificado de San Antonio — o Álamo — se transformou em baluarte da revolução texana. Os comandantes James Bowie e William Travis dividiam a liderança do pequeno contingente de cerca de 180 homens.

Mas Bowie adoeceu gravemente. O comando passou, por fim, a Travis. Jovem, arrogante para alguns, destemido para outros, ele assumiu a missão quase suicida de resistir ao exército do general Santa Anna, que avançava com mais de dois mil soldados.

E então, no dia 24 de fevereiro, Travis escreveu sua carta histórica. Começava com as palavras:

“To the People of Texas & All Americans in the World…”

Era um apelo desesperado, heroico, inflamado de coragem:

“I shall never surrender or retreat. Then, I call on you in the name of Liberty, of patriotism, and everything dear to the American character, to come to our aid… Victory or death!”

A carta não trouxe reforços em tempo. Mas se transformou em grito de guerra, em símbolo eterno da causa texana.

A Última Resistência

 

Por 13 dias, Travis e seus homens resistiram no Álamo. Lutaram sem esperança, mas com honra. Entre os defensores estavam lendas como Davy Crockett e James Bowie, mas foi Travis quem, no fim, assumiu a responsabilidade suprema.

Na madrugada de 6 de março de 1836, Santa Anna ordenou o ataque final. As tropas mexicanas escalaram os muros enquanto os defensores atiravam freneticamente. Travis foi um dos primeiros a morrer — atingido na cabeça por uma bala ao defender a muralha norte.

Mas seus homens lutaram até o fim. Todos foram mortos. Nenhum se rendeu. E quando a poeira baixou, nascia uma lenda.

O Legado de um Mártir

 

A morte de Travis teve um impacto desproporcional ao seu posto e idade. Ele se tornou mártir da liberdade texana, símbolo de sacrifício e coragem. Sua carta foi publicada em jornais americanos e inflamou a opinião pública, galvanizando o apoio à causa do Texas.

Poucas semanas depois, Sam Houston derrotaria Santa Anna na Batalha de San Jacinto, gritando: “Lembrem-se do Álamo!”

E todos lembraram. A carta de Travis seria reimpressa por gerações, estudada em escolas, citada em discursos políticos e até exposta no Capitólio.

Entre a História e o Mito

 

Como todo herói de fronteira, Travis foi também um homem de carne e osso, com falhas, impetuosidade e decisões impulsivas. Era jovem, às vezes imprudente, e provavelmente sabia que não sairia vivo do Álamo. Mas sua coragem — e sua capacidade de transformar morte em significado — fizeram dele um personagem trágico e essencial da história americana.

No estilo de Paul Andrew Hutton, podemos dizer que William B. Travis viveu pouco, mas morreu no coração do mito americano. Como o cavaleiro medieval enfrentando o dragão, ele encarou um inimigo avassalador com honra, honra suficiente para atravessar os séculos.