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Leitura de História

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As Invasões Vikings na Inglaterra

As invasões vikings na Inglaterra constituem um dos episódios mais significativos e transformadores da história europeia medieval. Essas incursões, protagonizadas por guerreiros escandinavos, marcaram o início de uma nova era de conflitos, dominação e mudanças culturais que moldaram a futura estrutura da Inglaterra. Este artigo explora a trajetória das invasões nórdicas, desde os primeiros saques até a consolidação de sua presença em solo inglês, destacando os principais eventos, motivações e consequências desse período.

O Início da Invasão Viking

A “Era Viking” na Inglaterra tem seu marco inicial em 793, com o ataque ao mosteiro de Lindisfarne, um evento que chocou o mundo cristão. O mosteiro, situado na costa nordeste da Inglaterra, foi invadido por uma força brutal de guerreiros nórdicos que, vindos do mar, saquearam o local, massacraram os monges e levaram consigo tesouros inestimáveis. Esse evento não foi apenas um ataque a um centro religioso, mas um símbolo do início de uma nova fase de terror e instabilidade na região. Conforme descrito nas Crônicas Anglo-Saxônicas, escritas sob a supervisão do Rei Alfredo de Wessex, os presságios que antecederam o ataque foram aterrorizantes, com “torvelinhos de relâmpagos e dragões flamejantes voando pelo ar.”

A Expansão das Incursões Nórdicas

As primeiras incursões vikings tinham como principal objetivo a pilhagem. A fragilidade das defesas saxônicas e bretãs, aliada à riqueza dos mosteiros e vilarejos, tornou a Inglaterra um alvo fácil e atraente. No entanto, à medida que os anos passaram, a estratégia dos vikings evoluiu. A partir de 850, os nórdicos começaram a estabelecer acampamentos permanentes em solo inglês, como na ilha de Thanet, no rio Tâmisa, marcando o início de uma mudança significativa nos seus objetivos. Agora, não se tratava apenas de saques temporários, mas de estabelecer uma presença duradoura e dominar territórios.

O Grande Exército Pagão

Em 865, as invasões vikings ganharam uma nova dimensão com a chegada do chamado “Grande Exército Pagão”. Este exército, composto por milhares de guerreiros escandinavos, não veio apenas para saquear, mas para conquistar e colonizar. A motivação para essa mudança de estratégia pode estar relacionada à escassez de terras férteis nas regiões nórdicas, contrastando com a vastidão e riqueza das terras inglesas. Nos quinze anos seguintes, os vikings travaram uma série de batalhas contra os reinos anglo-saxões, transformando o cenário político da Inglaterra.

As Motivações por Trás das Invasões

As verdadeiras motivações por trás das invasões vikings têm sido objeto de intensos debates entre historiadores. Embora as crônicas saxônicas não forneçam detalhes claros sobre o número de soldados ou os líderes das incursões, as fontes literárias posteriores, como as sagas nórdicas, sugerem que a morte de Ragnar Lothbrok, um lendário rei viking, foi um catalisador para a formação do Grande Exército. De acordo com essas sagas, os filhos de Ragnar, incluindo Ivar, o Desossado, Ubbe, e Sigurd, buscaram vingança pela morte do pai, executado pelo rei Aella da Nortúmbria, e lideraram a invasão em grande escala.

As Fases da Invasão Viking

Podemos dividir as invasões vikings na Inglaterra em três fases principais:

Primeira Fase (866-869): Nesta fase inicial, o Grande Exército Pagão avançou rapidamente sobre a Nortúmbria, derrotando o rei Aella em 867 e instalando um governante fantoche, Egberto I. A cidade de York, então conhecida como Eoferwic, foi capturada e renomeada como Jorvik, tornando-se um importante centro viking. No ano seguinte, os vikings avançaram sobre o reino da Mércia, enfrentando resistência considerável, mas continuaram a expandir seu controle sobre a região.

Segunda Fase (870-874): Com as conquistas na Nortúmbria e Anglia Oriental consolidadas, os vikings voltaram sua atenção para Mércia e Wessex. Em 871, a Batalha de Reading destacou a resistência inglesa, liderada pelo rei Etelredo e seu irmão Alfredo. Embora inicialmente derrotados, os ingleses conseguiram uma vitória significativa em Ashdown, mas Etelredo morreu logo depois, sendo sucedido por Alfredo. Nos anos seguintes, os vikings continuaram a saquear e capturar cidades na Mércia, até que o rei Burgredo foi substituído por um governante submisso aos nórdicos.

Terceira Fase (875-878): Antecipando uma invasão iminente, o rei Alfredo de Wessex preparou seu reino para a defesa. Em 877, a campanha viking liderada por Gudrun, Oscetel e Anund foi enfrentada com sucesso por Alfredo, culminando na derrota de Gudrun em Exeter. A derrota levou Gudrun a aceitar o cristianismo e a adotar o nome de Aethelstan, selando um acordo de paz com Alfredo em 878. Este tratado delimitou as fronteiras entre os territórios sob controle viking e os reinos anglo-saxões, consolidando a presença nórdica na Inglaterra e marcando o fim da fase mais agressiva das invasões.

O Legado das Invasões Vikings

As invasões vikings deixaram um legado duradouro na história da Inglaterra. Além das mudanças políticas e territoriais, a presença nórdica influenciou a cultura, a língua e a sociedade inglesa de maneira profunda. Cidades como York (Jorvik) se tornaram importantes centros comerciais e culturais sob domínio viking, e muitos elementos da cultura escandinava foram assimilados pelos anglo-saxões. Além disso, as invasões vikings contribuíram para a unificação dos reinos ingleses sob o comando de Alfredo, que passou a ser conhecido como Alfredo, o Grande, devido ao seu papel na defesa contra os invasores.

As invasões vikings na Inglaterra representam um período de intensa turbulência, mas também de transformação. Os nórdicos não apenas saquearam e destruíram, mas também contribuíram para a formação da identidade inglesa, deixando um legado que ainda ressoa na história e na cultura do país. A resistência e eventual adaptação dos anglo-saxões às mudanças impostas pelos vikings prepararam o caminho para a eventual unificação da Inglaterra, um processo que seria concluído apenas alguns séculos depois.

REFERÊNCIAS

ALFSON, Gorm – Ragnar Lothbrok. O conto de um rei guerreiro viking. Self Publisher Editora, 2020.

PRICE, Neil. Vikings – A história Definitiva. Editora Crítica, 2021.

LANGER, John. Dicionário de História e Cultura da Era Viking. Editora Hedra, 2018.

NOGUEIRA, Adeilson. Guerras Inglesas. Clube de Autores, 2020.

TIAGO, Luiz., Alfarrobeira ou o Diário de Siémen. Chiado Editorial, 2015.

VILAR, Leandro. A Grande Invasão Viking a Inglaterra (866-878). 

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