As Invasões Vikings na Inglaterra

No artigo de hoje vamos falar sobre as invasões dos povos nórdicos sobre o território inglês e de como esses povos consolidaram sua presença nesse pais.

O INÍCIO DA INVASÃO VIKING

     O início da “Era Viking” na Inglaterra, como é entendido pela historiografia oficial, se dá oficialmente com a invasão do mosteiro de Lindisfarne ou assalto de Lindisfarne, no ano de 793, como é descrito por LAGER: “O Ano de 793 traria um acontecimento chocante […]Nesta data, […] o mosteiro de Lindisfarne foi alvo de uma terrível invasão ocasionada por guerreiros brutos, vindos do mar”.

Talvez o relato histórico mais antigo da história dos povos saxões na Inglaterra sejam as Crônicas Anglo-saxã, escrita por um monge chamado Osmundo, e organizada pelo Rei Alfredo de Wessex. Essa traz um fragmento que diz:

793, neste ano apareceram presságios na Nortúmbria, que assustaram muitas pessoas. Consistiam em imensos torvelinhos de relâmpagos, e viam-se dragões flamejantes voando pelo ar. […], e pouco depois, em 8 de junho do mesmo ano, os homens pagãos destruíram a igreja de Deus em Lindisfarne. (LANGER)

Em todo relato oriundo deste período, há o exagero próprio do pensamento medieval, carregado de fantasia e superstição. Conforme as Crônicas Anglo-Saxônicas, relatos de saques e ataques de vikings continuaram pelos anos posteriores, sempre durante o verão e primavera, já que os nórdicos não costumavam se deslocar no inverno.

Com o tempo nos anos seguintes, os vikings passaram a montar acampamentos no território da Inglaterra, permanecendo durante períodos maiores.

O primeiro acampamento de inverno, relatado pelos historiadores, aconteceu na Ilha de Yaneth, no ano de 850. Essa ilha está localizada no Rio Tâmisa. Ao que parece, era mais vantajoso para os nórdicos montarem acampamento durante o período de inverno do que retornar a sua terra de origem e reorganizar suas forças. Isso continuou até que os ataques mudaram de sentido com a chegada do grande exército.

No início das invasões nórdicas na Inglaterra o objetivo era apenas a obtenção de riquezas de fácil acesso, devido a fragilidade das defesas dos povos saxões e bretões que habitavam a região. Porém a partir do 865 o propósito das invasões vikings passa a mudar de figura.

O interesse dos nórdicos passa a ser o de formar assentamentos e criar áreas de cultivo e pastagens, provavelmente provocadas pela escassez e a pobreza das terras dos seus territórios em contrapartida com a vastidão e fertilidade das terras da Inglaterra.

Os combates com o grande exército pagão foram travados ao longo dos quinze anos seguintes, o que a Crônica anglo-saxônica chama tanto de Grande Exército Pagão, como às vezes Grande Exército Invasor” (Price, 2021).

Os Motivos que levaram os Vikings a invadir a Inglaterra.

     Os relatos mais antigos sobre a invasão do grande exército não falam em números de soldados e nem em quem foram seus líderes. Nem tão pouco falam das reais motivações que levaram os nórdicos a se estabelecer no território.

Diga-se de passagem, que nesse período os reinos escandinavos não possuíam escrita e os relatos escritos dessa época foram produzidos pelos seus inimigos, bretões e saxões, povos que já possuíam cultura escrita, graças a presença da igreja cristã.

No entanto, existem informações literárias, escritas séculos depois, que contam as façanhas dos líderes nórdicos. Essas fontes, geralmente são poemas cantados nas cortes pelos trovadores, considerados pelos historiadores como fontes literárias, portanto podendo conter relatos ficcionais em seu conteúdo.

    Sendo assim, falam os poemas que o Rei Ragnar Lothbrok, teria sido executado em uma incursão pela Nortúmbria. O mesmo foi atirado em um poço de cobras a mando do Rei Aella II.

    Sendo assim seus filhos resolveram promover uma vingança, recrutando um grande exército para invadir a Nortúmbria e vingar a morte do pai.

     As fontes literárias colocam os líderes do grande exército todos como filhos de Ragnar. Não se sabe se eram mesmo, mas no geral são citados os nomes de Ivar, o sem ossos, Ubbe, Sigurd, Halfdan e às vezes Bjor, flanco de ferro.

Existem relatos desses nomes em anos muitos posteriores a esses fatos, como os combates de Ivar na Escócia. O mais provável é que havia a necessidade de retratar os grandes guerreiros como filhos de Ragnar.

Como afirma Alfson, “Ragnar Lothbrok ou Ragnar Lodbrok, como também é conhecido, é a verdadeira afirmação de lendário. Esse guerreiro viking é um herói distinto do panteão dos guerreiros nórdicos e seu nome figura entre todas as sagas e crônica”. (Alfson, 2020)    

    Pode-se dividir as investidas do grande exército em três fases.

A primeira fase da invasão (866-869)

     As Crônicas saxônicas não dão muitos detalhes de como as batalhas ocorreram, apenas trazem registros cronológicos e os locais.

     No ano de 867 as tropas do grande exército invadiram a Nortúmbria, onde o governante local foi morto e em seu lugar foi colocado um rei fantoche, chamado Egberto I, totalmente submisso aos nórdicos. O Rei Aella foi morto em 867, é um ponto em que as fontes históricas entram em coerência com a fonte literária.

     Posteriormente a cidade de Euforwik, no território do Anglia Oriental, foi ocupada pelos vikings, e seu nome trocado para Jorvik. Atualmente essa cidade é conhecida como York.

     Acredita-se que os combates cessaram no inverno e no ano seguinte, os nórdicos marcharam em direção ao reino da Mércia.

     Devido a extensão do reino da Mércia, o exército pagão teve mais dificuldade para se locomover. O então governante local, o Rei Burgredo tentou formar uma aliança com nobres de Wessex e Anglia Oriental, mas foi mal sucedido.

     Enquanto a Mércia resistia ainda, no ano de 869 o território da Anglia Oriental foi totalmente dominado. Ficando assim a Nortúmbria e a Ânglia Oriental sob o domínio dos Daneses, como eram chamados os invasores nórdicos.

    Acredita-se que em sua maioria vinham da Dinamarca com o apoio de Noruegueses. Por isso eram chamados de Daneses.

    A primeira fase da campanha militar terminou em 870, nesse ponto são citados os nomes de dois líderes daneses, Hingwar e Ubbe. Outro ponto em que a literatura se encontra com a história, pois Ubbe é citado nos poemas como um dos filhos de Ragnar.

A segunda fase da invasão (870-874)

     Com sua posição consolidada nos territórios inglês, o interesse dos daneses se volta para o reino da Mércia e posteriormente para Wessex.

     No ano de 871 ocorreu a importante batalha de Reading, já no território de Wessex. Onde o Rei Etelredo, acompanhado de seu irmão Alfredo, atacou de surpresa o acampamento Nórdico.

Etelredo foi derrotado e perseguido pelos daneses. Conseguiu se reagrupar na cidade de Ashdown e derrotou o exército invasor. Cita a crônica que os daneses eram liderados por Begsec e Halfdan, cada um comandando um exército próprio.

Etelredo e Alfredo voltaram para Londres e durante a páscoa Etelredo faleceu, sendo sucedido por seu irmão Alfredo. Isso se deu em 871 ainda.

Em 872 Londres foi atacada e saqueada, bem como outros pontos localizados no Reino da Mércia. Em 873 as cidades da Mércia, Torksey e Lindsay foram atacadas por tropas vindas do Norte. O rei Burgredo da Mércia foi morto e em seu lugar assumiu Ceowulf, que fez um acordo de paz com os nórdicos.

Com a Mércia conquistada, o interesse dos vikings se volta para o mais rico reino da Inglaterra, Wessex. (VILAR, 2022)

Vale lembrar que era costume de os Nórdicos instituírem um tributo sobre as regiões conquistadas e também requererem terras para assentamentos agrícolas de seu povo.

A terceira fase da invasão (875-878)

     Ciente da ameaça, o Rei Alfredo de Wessex treinou um grande exército antevendo a invasão, bem como mandou fortificar as cidades com muralhas.

No ano de 877, vários ataques foram liderados por Gudrun, Oscetel e Anund. Sendo que Gudrun chegou a conquistar a cidade de Exeter, mas foi derrotado por Alfredo. “A derrota de Gudrun, resultou na sua conversão ao cristianismo, passando então a chamar-se AEthelstan.” (Tiago, 2015)

    Isso fez com que Alfredo propusesse um acordo de paz. Gudrun retirou seu exército de Wessex. Em troca. Posteriormente.

Com esse acordo, “em 886, o Tratado de Alfredo e Gudrun definiu os limites de seus dois reinos. O reino da Mércia foi dividido, com parte indo para Wessex de Alfredo e a outra parte para a Anglia Oriental de Gudrun. (Nogueira, 2020)

REFERÊNCIAS

ALFSON, Gorm – Ragnar Lothbrok. O conto de um rei guerreiro viking. Self Publisher Editora, 2020.

PRICE, Neil. Vikings – A história Definitiva. Editora Crítica, 2021.

LANGER, John. Dicionário de História e Cultura da Era Viking. Editora Hedra, 2018.

NOGUEIRA, Adeilson. Guerras Inglesas. Clube de Autores, 2020.

TIAGO, Luiz., Alfarrobeira ou o Diário de Siémen. Chiado Editorial, 2015.

VILAR, Leandro. A Grande Invasão Viking a Inglaterra (866-878). Disponível em: <https://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2020/05/a-grande-invasao-viking-inglaterra-866.html>. Acesso em 03 jun 2022.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *