O título “imperador romano” como o conhecemos hoje é um conceito moderno. No auge do Império Romano, não havia uma definição clara de suas funções, um processo formal de seleção ou até mesmo um título unificado para aqueles que detinham o poder. O que existia, no entanto, era uma mistura complexa de cargos políticos, militares e religiosos, em que o controle do exército e do senado era essencial para quem desejava manter a autoridade suprema sobre o vasto império.
As figuras de Júlio César, o último governante da República, e Augusto, o primeiro imperador de fato, moldaram profundamente o conceito do que seria o governante romano. A adoção de seus nomes ou títulos era um símbolo claro da ascensão ao poder máximo, refletindo a sombra longa e poderosa que ambos deixaram na história do império. Para muitos, governar Roma significava um passaporte para riqueza ilimitada e uma posição de poder absoluto, em uma época onde a força determinava quem subia ou caía.
Dada essa liberdade para aqueles que alcançavam o trono, não é surpreendente que muitos imperadores tenham ficado marcados pela brutalidade e pela fama de serem perversos. Entre os nomes mais infames, destacam-se figuras como Calígula, Nero, Cômodo, Caracala e Maximinus Thrax. Estes homens, cada um à sua maneira, deixaram uma marca indelével na história de Roma, não apenas pelas políticas, mas pelos atos de crueldade e loucura.
Calígula (37–41 d.C.)
Calígula, um dos imperadores mais famosos por sua tirania, ascendeu ao poder em 37 d.C., escolhido por seu tio-avô Tibério. Inicialmente, sua popularidade era grande, especialmente após o fim do regime repressivo de Tibério. No entanto, sete meses após assumir o trono, uma grave doença parece ter desencadeado uma mudança em sua personalidade. O adorado Botinhas,apelido que ganhou na infância, tornou-se um dos tiranos mais temidos de Roma.
Calígula ficou conhecido por suas excentricidades e crueldades. Um de seus atos mais extravagantes foi a construção de uma ponte flutuante de três quilômetros na baía de Baias, simplesmente para desafiar uma profecia que previa que ele nunca cruzaria o local a cavalo. Ele também tinha uma fixação por seu cavalo, Incitatus, que vivia em um estábulo de mármore e supostamente teria sido nomeado cônsul. Além disso, ele se declarou deus em 40 d.C. e construiu um palácio descrito como um bordel, onde suas próprias irmãs estariam envolvidas.
Entre fome e crise econômica, o desejo de Calígula de se mudar para o Egito e se proclamar deus do sol foi a gota d’água para sua corte. Ele foi assassinado em janeiro de 41 d.C., pondo fim ao seu governo tirânico.
Nero (54–68 d.C.)
Nero, o último da dinastia Júlio-Claudiana, é lembrado por suas ações violentas e, em muitos casos, bizarras. Embora parte da sua reputação possa ter sido exagerada por inimigos políticos, muitos de seus atos foram documentados. Entre suas atrocidades, destaca-se o assassinato de sua própria mãe, Agripina, para poder se casar novamente. Sua primeira esposa foi divorciada e, posteriormente, executada. A segunda foi morta a chutes, e a terceira, uma escrava castrada, foi chamada pelo nome anterior.
Nero também executou indiscriminadamente seus inimigos e críticos. Embora tenha reduzido impostos e promovido grandes entretenimentos públicos, o custo de suas excentricidades foi alto para o império. Ele teria ordenado o incêndio de Roma em 64 d.C., para poder reconstruir a cidade à sua imagem, o que levou ao famoso grande incêndio de Roma. Quando seu fim se aproximava, ele pediu que seu secretário o matasse, acreditando que assassinos enviados pelo Senado estavam a caminho. Curiosamente, o luto mais alto veio do teatro e da arena, evidenciando sua popularidade entre as massas, apesar de seus excessos.
Cômodo (180–192 d.C.)
Cômodo, filho de Marco Aurélio, marcou a transição da Era de Ouro do império para um período de instabilidade e desordem. Embora não fosse particularmente cruel, sua falta de habilidade como governante permitiu que amigos e conselheiros corruptos controlassem Roma em seu lugar. Cômodo, porém, não carecia de ego. Ele se retratava como Hércules, o heroi mítico grego, e adorava se exibir nos jogos, onde matava animais selvagens e lutava contra gladiadores que não ousavam vencê-lo.
Sua megalomania atingiu o auge em 192 d.C., quando renomeou Roma para Colonia Lucia Annia Commodiana e deu seu nome a todos os meses do ano, além de legiões, palácios e até mesmo aos próprios cidadãos. O fim de seu governo veio rapidamente. Em 193 d.C., ele foi assassinado por seu parceiro de luta livre, e todos os nomes que ele impôs à cidade foram revertidos.
Caracala (198–217 d.C.)
Caracala é lembrado tanto por suas campanhas militares quanto por sua violência interna. Após subir ao poder junto com seu irmão, Caracala rapidamente decidiu que não poderia compartilhar o trono e ordenou o assassinato de seu irmão, seguido pelo massacre de seus seguidores. Uma das suas principais realizações foi a emissão do Édito de Caracala em 212 d.C., que concedeu cidadania romana a quase todos os homens livres do império, um movimento que, embora útil em termos de arrecadação de impostos, contribuiu para diluir o status da cidadania romana.
Em Alexandria, uma sátira sobre seu governo irritou Caracala a ponto de ele massacrar os cidadãos da cidade em retaliação. Esse ato de vingança deixou 20 mil mortos. Seu governo chegou ao fim quando um soldado, cujo irmão havia sido executado por Caracala, o assassinou.
Maximinus Thrax (235–238 d.C.)
Maximinus Thrax é visto como o imperador que iniciou o período de “Anarquia Militar” no século III, uma era de caos e sucessões violentas. Um militar de origem camponesa, ele chegou ao poder após a morte de Alexandre Severo. Seu governo foi marcado por uma série de guerras e conflitos nas fronteiras do império, esgotando os recursos de Roma.
Ele dobrou o salário dos soldados para garantir sua lealdade, mas isso gerou uma grave crise econômica. Maximinus era impopular no senado e entre os cidadãos de Roma, especialmente depois de uma revolta apoiada pelo senado. Cercado por inimigos, ele foi finalmente morto por suas próprias tropas durante um cerco à cidade de Aquileia.
A história do Império Romano está repleta de imperadores que governaram com mãos de ferro e cujas ações ficaram gravadas na memória coletiva. Calígula, Nero, Cômodo, Caracala e Maximinus Thrax representam o lado mais sombrio do poder absoluto, onde a linha entre a grandeza e a loucura se tornou perigosamente tênue. Essas figuras, embora infames, ajudaram a moldar a história de Roma, mostrando que, no final, o verdadeiro desafio para qualquer governante romano não era apenas conquistar o poder, mas mantê-lo.