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A Batalha de Brunanburh: A Batalha Que Moldou as Fronteiras da Grã-Bretanha

A Batalha de Hastings em 1066, a Batalha de Bosworth Field em 1485 e a Batalha de Naseby em 1645 são amplamente reconhecidas como eventos cruciais na história militar britânica. No entanto, uma batalha menos conhecida, a Batalha de Brunanburh, travada em 937 d.C., teve um impacto profundamente significativo na configuração política e geográfica das Ilhas Britânicas. Este confronto, embora menos celebrado na história popular, foi fundamental para definir as fronteiras modernas da Inglaterra, Escócia e País de Gales.

O Contexto Político e Geográfico Antes da Batalha

Antes da Batalha de Brunanburh, a Grã-Bretanha era uma terra de fragmentação política e rivalidades regionais. A ilha estava dividida em diversos reinos e feudos, com fronteiras constantemente em disputa. No norte da Grã-Bretanha, os celtas eram predominantes. O reino de Alba, localizado na atual Escócia, estava sob o domínio de Constantino II, enquanto o Reino de Strathclyde cobria a região do sul da Escócia, Cumbria e partes do País de Gales, sob o comando de Owen ap Dyfnwal.

No norte da Inglaterra, a região estava sob o controle dos nórdicos, conhecidos como os Condes de Northumberland, que eram descendentes dos vikings. O líder destes nórdicos era Olaf Guthfrithsson, o rei de Dublin, que também exercia influência sobre grande parte da Irlanda. O centro e o sul da Inglaterra, por outro lado, estavam dominados pelos anglo-saxões. Embora o rei Athelstan de Wessex fosse o governante nominal, o território estava dividido em diversos feudos independentes, unidos por alianças e rivalidades, principalmente entre os reinos de Wessex e Mércia.

A Escalada das Tensões

A partir do século VIII, as tensões entre os diversos grupos políticos da Grã-Bretanha aumentaram significativamente. Os vikings, que haviam se estabelecido no norte da Inglaterra, buscaram expandir seus territórios para o sul, invadindo terras anglo-saxãs. Para contrabalançar essa ameaça, os anglo-saxões formaram alianças e tentaram resistir à expansão viking. Simultaneamente, os celtas foram pressionados a recuar em algumas áreas devido ao avanço dos vikings e anglo-saxões.

Em 928, Athelstan, antecipando um ataque viking, tomou a iniciativa de atacar York, uma importante cidade nórdica. Esse movimento foi um marco na tentativa de consolidar a autoridade anglo-saxã sobre toda a Grã-Bretanha. Os poetas da corte anglo-saxã começaram a se referir ao reino como “Inglaterra Completa”, e as moedas passaram a exibir o título “rex totius Britanniae” (rei de toda a Grã-Bretanha). Em 934, Athelstan conquistou grandes partes da Escócia, tornando-se o governante britânico mais poderoso desde a época romana.

A Aliança dos Rivais

O sucesso de Athelstan não passou despercebido pelos outros governantes da região. Constantino II, rei de Alba, formou uma aliança estratégica com Olaf Guthfrithsson, o rei de Dublin. A filha de Constantino casou-se com Olaf, unindo os interesses nórdicos e escoceses. Além disso, Owen de Strathclyde, parente de Constantino, também se aliou contra Athelstan. Essa coalizão de forças celtas e nórdicas representava uma ameaça significativa ao domínio anglo-saxão.

O Desenrolar da Batalha de Brunanburh

Em 937 d.C., a tensão entre esses diversos grupos culminou na Batalha de Brunanburh. O conflito se dividiu claramente entre duas alianças: uma formada pelos vikings, nórdicos-irlandeses, escoceses e galeses de Strathclyde, liderados por Anlaf Guthfrithsson, e a outra composta pelos anglo-saxões sob a liderança de Athelstan. Anlaf, descrito como o “rei pagão da Irlanda e de muitas ilhas”, pretendia destruir o domínio anglo-saxão e eliminar Athelstan e seus seguidores.

Os registros históricos, como a Crônica Anglo-Saxônica, descrevem a batalha como “imensa, lamentável e horrível”, com um número significativo de mortos. A Crônica relata que nenhum massacre ainda foi maior feito nesta ilha, de pessoas mortas, antes desta mesma, com a ponta da espada… Cinco reis estavam deitados no campo de batalha, em flor de juventude, perfurados com espadas. Então, sete eke dos condes de Olaf; e das multidões inumeráveis da tripulação do navio.” Este relato destaca a magnitude e a brutalidade do confronto.

O Desenrolar da Batalha e as Táticas Empregadas

O que realmente aconteceu durante a batalha é envolto em mistério. Sabe-se que o exército invasor estava enterrado em trincheiras, que foram rapidamente superadas pelos anglo-saxões. Alguns historiadores sugerem que este pode ter sido o primeiro exemplo de cavalaria britânica em batalha, embora não existam evidências concretas para corroborar essa teoria.

A localização exata da batalha é igualmente enigmática. Alistair Campbell, um medievalista renomado, concluiu que “toda a esperança de localizar Brunanburh está perdida”. Mais de 30 locais foram sugeridos, abrangendo áreas como Shropshire, Yorkshire, Lancashire e Northamptonshire. Entre os locais propostos, Bromborough no Wirral, Merseyside, e Burgh Wallis, cerca de sete milhas ao norte de Doncaster, são os mais frequentemente mencionados.

As Consequências da Vitória Anglo-Saxã

Apesar das incertezas quanto ao local e aos detalhes da batalha, o resultado foi decisivo. Athelstan e os anglo-saxões saíram vitoriosos, assegurando a fronteira norte da Inglaterra e mantendo os celtas a oeste. A vitória consolidou a posição de Athelstan como o governante supremo da Grã-Bretanha e resultou na unificação dos reinos de Wessex e Mércia, criando uma Inglaterra unida.

O historiador Æthelweard, escrevendo por volta de 975, relatou que “os campos da Grã-Bretanha foram consolidados em um só, havia paz em todos os lugares e abundância de todas as coisas”. Esta afirmação sublinha a importância da Batalha de Brunanburh na formação das fronteiras e na estabilização da Inglaterra.

Embora menos conhecida do que outras batalhas importantes na história britânica, a Batalha de Brunanburh desempenhou um papel crucial na definição das fronteiras políticas da Grã-Bretanha. O resultado da batalha ajudou a consolidar a unidade inglesa sob Athelstan e estabeleceu as bases para o desenvolvimento político futuro da Inglaterra, Escócia e País de Gales. Portanto, a Batalha de Brunanburh, apesar de seu contexto obscuro e de sua localização imprecisa, é um dos eventos mais significativos da história britânica, moldando o destino das ilhas e influenciando profundamente sua trajetória histórica.



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