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Scuderie Detetive Le Cocq: A História de um Esquadrão da Morte Carioca

No artigo de hoje vamos falar sobre uma organização extraoficial da polícia carioca chamada Scuderie Detetive Le Cocq.

Essa organização tratava-se na verdade de uma sociedade sem fins lucrativos criada por policiais cariocas chamada Associação Filantrópica Scuderie Detetive Le Cocq, e no papel seu objetivo era fazer panfletagens, incentivando as pessoas a utilizarem o disque-denúncia.

O estopim para a criação da Escuderia.

Mas na verdade, como se descobriu mais tarde, tratava-se de um esquadrão da morte.

A Escuderia foi criada em retaliação a morte do famoso detetive Milton Le Cocq. O detetive Milton foi um policial carioca, membro da guarda pessoal do ex -presidente Getúlio Vargas, também era primo do Brigadeiro Eduardo Gomes.

Le Cocq foi morto no dia 27 de agosto de 1967, por um bandido chamado Manoel Moreira, conhecido como cara de cavalo, em uma abordagem policial.

Como dito em outro artigo, a morte do detetive Milton, provocou a maior mobilização da polícia carioca até então, fazendo com que seu assassino fosse cassado e executado com mais de 50 tiros. 

Mas, isso não bastou.

No dia seguinte à morte de Le Cocq, o jornal Globo noticiou a revolta dos policiais: “Não foram poucos os que, junto ao cadáver, juraram matar o assassino”. 

A morte de Cara de Cavalo aconteceu no dia 2 de outubro de 1967. Foi encontrado em um  casebre de Saco de Fora, região que na época integrava o município de Cabo Frio. 

Ele foi abrigado lá pela namorada, Nilza Ribeiro, que era amiga de Vanilda Alves, filha de Pedro Januário e Clotilde Alves, os donos da casa. Esses disseram não saber da procedência do meliante.

Entre os executores de Cara de Cavalo estavam os dois futuros criadores da Escuderia, Luiz Mariano dos Santos e Guilherme Godinho Ferreira, o Sivuca. Mais tarde, Sivuca se elegeria deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

A Organização 

Na bandeira da Escuderia havia as iniciais “E.M.” no brasão da Scuderie Le Cocq significam “Esquadrão Motorizado”, divisão da Polícia Especial à qual pertencia o detetive Milton Le Cocq. Também havia uma caveira em cima de ossos cruzados.  Com a extinção da Polícia Especial, Le Cocq, além de seus colegas Sivuca e Euclides, passaram para a Polícia Civil.

Erroneamente, muitos diziam que as letras significavam Esquadrão da Morte. 

A associação era liderada pelos chamados “Doze Homens de Ouro”, um para cada casa do zodíaco ou para cada mês do ano. Eram doze policiais famosos escolhidos pelo Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luiz França.

Seu objetivo não oficial era limpar a cidade e eliminar criminosos, travestis e moradores de rua.

Entre os que integravam o grupo estavam os policiais Aníbal Beckman dos Santos (Cartola), Euclides Nascimento Marinho, Helio Guahyba Nunes, Humberto de Matos, Jaime de Lima, Lincoln Monteiro, Mariel Mariscot, Nelson Duarte, Nails Kaufman (Diabo Louro), José Guilherme Godinho (Sivuca), Vigmar Ribeiro e Elinto Pires.

Sob a esfinge da caveira, a escudeira tornou-se uma entidade celebrada pela sociedade e tolerada pelo estado carioca. Chegou a ter como seu presidente de honra o jornalista David Nasser. 

A entidade teve em seus quadros, não só policiais, mas outros membros da sociedade, como juízes, políticos e promotores de justiça. Esses eram chamados de irmãozinhos.

Acredita-se que a Scuderie Le Cocq tenha assassinado mais de mil e quinhentas pessoas durante os anos de sua atuação.

O Fim da Scuderie e Seu Legado

A Scuderie Le Cocq foi extinta por ordem judicial no início dos anos 2000, portanto durou bastante tempo.

Em dezembro de 2004, o juiz Alexandre Miguel determinou a extinção da entidade, decisão essa confirmada anos mais tarde pelo Segundo Tribunal Federal.

Em 18 anos de atividade, a entidade foi acusada de mais 1.500 homicídios, sendo destes 30 por motivações políticas.

Para muitos sociólogos a escuderia foi a semente dos modernos grupos de milícias que atuam hoje em todo território nacional, mais fortemente no Rio de Janeiro.

O jornalista Zuenir Ventura, chama esse período de “Ovo de serpente”, tratando-se do intervalo entre o fim do estado novo e o início da Ditadura Militar. Referência tirada do livro ”Cidade Partida”.

Segundo o autor, o cúmulo das tensões entre polícia e criminalidade, culmina na chacina de Vigário Geral, em agosto de 1993. Nesse incidente 21 pessoas foram mortas pela ação de um grupo de extermínio. Essa chacina foi uma represália à morte de 4 PMS por traficantes.

Nomes Famosos da Scuderie Le Cocq

Vamos relacionar aqui alguns nomes de integrantes da escuderia Le Cocq, que tiveram seus nomes revelados durante os processos de investigação.

Mariel Araújo Mariscot de Matos

Policial civil que atuou no Rio de Janeiro na década de 1960, foi acusado de participar de vários assassinatos.

Jovem ambicioso, sonhava em ser rico. Começou sua carreira como salva vidas em Copacabana até que passou no concurso da polícia no ano de 1966.

Ganhou notoriedade ao matar um assaltante que resistiu a voz de prisão. Ficou conhecido como o Ringo de Copacabana.

Em sua homenagem foi feito um longa metragem, “Eu matei Lúcio Flávio“. 

Além da fama de justiceiro, Mariel também tinha fama de conquistador. Namorou lindas mulheres, como Darlene Glória, Rose Di Primo e Elza de Castro, com quem foi casado.

Luiz Mariano dos Santos

Também foi um dos fundadores da Scuderie Detetive Le Cocq, e foi um dos responsáveis pela morte do bandido Cara de Cavalo

Juntamente com o Delegado Sivuca, entre outros, foi da Polícia Especial, responsável pela guarda pessoal de Getúlio Vargas, mas com a extinção dessa polícia e com a criação do Estado da Guanabara em 1960, passou com outros, como Detetive, a integrar a Polícia Civil do Novo Estado.

Em 1990, recebeu o título de cidadão do Estado do Rio de Janeiro; em 1992, assumiu a Corregedoria da Polícia. 

Durante os anos 90, foi diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE) da Polícia Civil. 

Fora da Polícia, foi membro da Portuguesa Carioca e treinador do São Cristóvão e do Botafogo, o que deu ao alvinegro carioca o apelido de “Time do Camburão”, por ter à frente de seu Departamento Técnico dois delegados de polícia: Luiz Mariano, como técnico, e Hélio Vígio, como preparador físico.

José Guilherme Sivuca Ferreira (Delegado Sivuca)

O Delegado Sivuca foi da Polícia Especial, foi responsável pela guarda pessoal de Getúlio Vargas, mas com a extinção dessa polícia com a criação do Estado da Guanabara em 1960, passou com outros, como Detetive, a integrar a Polícia Civil do Novo Estado.

Vinte e dois anos (22) depois da morte de Cara de Cavalo Sivuca foi eleito Deputado Federal pelo Rio de Janeiro. Seu bordão de campanha era  “bandido bom é bandido morto”, depois complementado por “e enterrado de pé, para não ocupar muito espaço”. Ele foi eleito pela sigla do Partido Democrata Cristão.

Lembrando que esse é um artigo em construção que visa conhecer e entender o processo de construção da sociedade civil brasileira. Se você tem alguma crítica ou sugestão, deixe seu comentário, sua opinião é muito importante para.

Este artigo buscou trazer à luz a história da Scuderie Detetive Le Cocq, um grupo que, embora tenha se apresentado como uma organização filantrópica, operava como um esquadrão da morte.  A complexidade dessa organização, seu impacto na sociedade e seu legado na segurança pública brasileira são temas que merecem reflexão e debate. Se você tem alguma crítica ou sugestão, por favor, compartilhe nos comentários. Sua opinião é fundamental para continuarmos explorando a história do Brasil.

Adesivo da Escuderia na traseira de um fusca
Adesivo da Escuderia na traseira de um fusca

 

 

 

 

 

 

Busto em homenagem a Milton Le Cocq
Busto em homenagem a Milton Le Cocq

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Morte do Bandido Cara de Cavalo
Morte do Bandido Cara de Cavalo

 

 

 

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