Imperatriz Matilda, a matriarca da dinastia Plantageneta

No artigo de hoje vamos falar sobre a mulher que deu origem a dinastia plantageneta, a Imperatriz ou Rainha Matilda e sua conflituosa vida.

Um breve esclarecimento, a dinastia Plantageneta reinou na Inglaterra entre 1154 até 1485, e teve 14 reis, 6 dos quais pertenciam às causas secundárias de York e Lancaster, ramificações da dinastia. 

O início da dinastia se deu com a união de Geoffrey, Conde de Anjou, e a Imperatriz Matilda, filha de Henrique I. 

Considerando as ramificações de York e Lancaster como Plantagenetas, pode-se concluir que o último rei plantageneta foi Richard III, cuja coroa perdeu em campo de batalha para o criador da casa Tudor: Henry VII.

Agora que falar de rainhas reinantes está em evidência, vamos falar daquela que para muitos é considerada a primeira rainha reinante da Inglaterra.

A mãe do primeiro rei Plantageneta Henry II, a Imperatriz Maud, ou Matilda, pode ser que a história da Inglaterra poderia ter sido diferente se Matilda tivesse sido capaz de tomar seu lugar de direito no trono de Inglaterra. 

Ela tornou o caminho mais fácil para rainhas posteriores, como Margaret de Anjou, que trabalhou para manter o trono para seu marido e filho, ou, mais tarde, Mary Tudor. 

Ou talvez Matilda sofreu apenas um golpe de sorte, uma experiência que nunca se repetiria.

Nascimento, casamentos, surge a mãe de um rei!

A menina Matilde era a filha mais velha de Henrique I de Inglaterra, filho de William, o Conquistador, com sua primeira esposa Edith da Escócia

Alguns historiadores afirmam que ela nasceu em Winchester, outros que ela nasceu no palácio real de Sutton em Berkshire, em 07 de fevereiro de 1102 na Inglaterra. 

Teve pouco contato com seu pai, porque quando tinha dois anos de idade, foi mandada para a Normandia, permanecendo lá por três anos. 

Por isso foi alfabetizada em Normando francês, sendo essa sua primeira língua. 

Ela foi prometida em casamento a Henry V, imperador do Sacro Império Romano  viajou para a Alemanha com a idade de 8 anos, levando consigo um grande dote. 

Reinado da Alemanha

Seu tutor foi demitido e sua educação foi assumida pelo Arcebispo de Bruno de Trier. 

Rapidamente aprendeu alemão, a fim de se comunicar com seus súditos. 

Com a idade de 12 anos, ela foi considerada madura o suficiente para se casar, o que ocorreu em junho de 1114. 

Apesar da diferença de idade, Henry era 15 anos mais velho que sua noiva, o casal parece ter se afeiçoado a outro. 

Henry confiava e a respeitava o suficiente, por isso a fez regente na Itália por um período de dois anos, o que lhe deu uma experiência política valiosa. 

A única coisa que faltava para consolidar o relacionamento teria sido o fato de Matilda ter dado à luz um filho, mas não houveram herdeiros do casamento. 

No entanto, existem alguns historiadores que acreditam que Matilda pode ter tido um filho que morreu com apenas alguns meses de idade. 

Posteriormente, dois fatos mudaram a vida de Matilda para sempre. 

 

O primeiro evento foi a morte de seu irmão William Atheling em 1120, afogado em desastre náutico. Sua morte lançou uma sombra sobre a sucessão da coroa inglesa.

Como Matilda era a única filha legítima de Henry, ela deveria ter sido nomeada sua sucessora. 

Em vez disso Henry I casou-se novamente com Adeliza de Louvain. Não havia qualquer dúvida de que Eliza teria um filho que herdaria o trono. 

Depois da morte de Henry, ela se casou novamente e deu à luz sete filhos com seu novo marido. 

O segundo evento foi a morte de seu marido em 1125, com apenas 23 anos de idade. Era ela agora uma viúva sem filhos. 

Matilda então foi convocada a voltar para a Normandia por seu pai, o que a deixou descontente. 

Ainda era uma figura amada e muito respeitada pelos súditos de seu marido. Havia até propostas de casamento por outros príncipes alemães. 

Depois de 15 anos no exterior, ela estava agora mais alemã do que Normanda ou até mesmo inglesa. 

O Regresso a Normandia

Houve no entanto um incentivo para o seu regresso, seu pai já tinha decidido que ela seria a presumível herdeira do trono. 

Em 1127, Henry fez o seu tribunal de sucessão, obrigando inclusive seu sobrinho Stephen de Blois, a fazer um juramento de fidelidade a Matilda. Houve também um segundo juramento, um ano depois, durante a Páscoa.

No entanto, a sua sucessão não era garantida e ela e seu pai sofreram diversos ataques de inimigos políticos e interessados ao trono.

A ideia de primogenitura era um conceito novo na Inglaterra. Antes da conquista normanda, o rei da Inglaterra era escolhido por votação em um conselho de nobres.

Somente após a morte de William, o trono foi tomado por seu segundo filho William Rufus que lutou contra seu irmão mais velho Robert para conquistar a coroa.

E após a morte prematura de William Rufus, seu irmão mais novo Henry foi coroado rei da Inglaterra.

Havia outros pretendentes ao trono, incluindo sobrinhos de Henri, Stephan  Eustace, filhos de sua irmã Adele, e outro sobrinho William Cleto, filho do irmão mais velho de Henry Robert.

A Guerra Civil e a Disputa pelo Trono

Mas o maior empecilho era de que a Inglaterra não estava pronta para uma rainha, uma governante mulher.

Cronistas da época a descreviam como orgulhosa e soberba, características que teriam sido aplaudidas em um homem, mas não em uma mulher.

Uma coisa admissível para a época, era uma mulher governar em lugar de seu marido enquanto ele enquanto ele se ausentou em guerras ou atendendo a suas outras terras. Como a mãe de Matilda fazia frequentemente.

Outra coisa era governar sozinha. Até mesmo a Igreja ensinava que as mulheres eram mais fracas do que os homens, mais propensas ao pecado. Talvez inspirados pelo pecado de Eva.

Também havia a ideia de que uma mulher que assumisse papéis masculinos , não seria uma mulher decente. Os padres gostavam de citar o exemplo da rainha Jezebel como um motivo de por que as mulheres não devem governar, esquecendo é claro que Jezabel era apenas uma rainha consorte.

Também havia o exemplo de Cleópatra, um outro caso extremo e preventivo do que acontece quando uma mulher chega ao poder.

E esta atitude não mudou muito num curto período de tempo histórico, como no caso de Mary, Rainha dos Escoceses, no século 16, e John Knox.

Agora que Henry tinha feito sua herdeira, era hora de arranjar outro casamento para Matilda. Como antes, Matilda não teria qualquer influência na escolha de seu noivo.

Para seu espanto, o pai quis que se casasse com Geoffrey, filho do Conde de Anjou. Seu novo marido, apesar de bonito, com cabelos loiros e olhos azuis, possuía quatorze anos enquanto a herdeira tinha seus vinte e cinco.

Especula-se que ele também era, como a maioria dos adolescentes nobres, mimado e petulante. Tirando o fato que era um mero conde enquanto Matilda tinha sido uma vez imperatriz.

Ela considerou o casamento abaixo do seu nível social. Por esse motivo, se recusou a casar-se.

Henry se trancou em seu quarto e lá ficou até que ela concordasse. O casal casou-se em Le Mans, em junho de 1128. Durante toda a sua vida, Matilda se recusou a usar seu novo título de condessa, preferindo ser conhecida como Imperatriz.

O casamento foi tempestuoso durante o início e depois de um ano. Sendo que  Matilda deixou o marido e voltou para a Normandia. Mas a separação não durou muito tempo.

Seu pai, Henry, queria netos e para que isso ocorresse Matilda precisava voltar para o marido.

Ele teve seu desejo realizado quando ela deu à luz a um menino em 1133, também chamado Henry.

Um segundo filho nasceu um ano depois, mas Matilda quase morreu de complicações com o trabalho.

Sua condição era tão crítica que foram planejados arranjos de enterro. No entanto, se recuperou e teve ainda um terceiro filho chamado William que nasceu dois anos depois. 

Embora Henry tenha nomeado a filha como sucessora, sem dúvida, ele tinha esperanças de viver até seu neto mais velho ter idade suficiente para ascender ao trono.

Seus desejos foram frustrados com sua morte repentina em 1135 depois de comer uma quantidade excessiva de lampreias. É claro que houveram vários tipos de teorias da conspiração que cercam sua morte até os dias de hoje.

A relação entre Matilde e seu pai tinha se tornado tensa nos últimos anos de sua vida. Matilda e Geoffrey tinham sugerido que Henry entregasse os castelos reais na Normandia para eles e ter feito os nobres normandos jurar fidelidade a ela.

Isso o colocaria em uma posição mais poderosa depois da morte de Henry, mas Henry recusou. 

Vida longa a rainha? O rei rival, exílio e vitória. 

Quando estava grávida de seu terceiro filho, Matilda foi surpreendida pela morte de seu pai. Não havia tempo para levantar um exército e seu caminho para a costa fora bloqueado por inimigos de seu marido.

Stephen agiu rapidamente para consolidar seu poder sobre a coroa. Ele foi coroado na Abadia de Westminster no dia após o Natal em 1135 por seu irmão Henry, Bispo de Winchester.

Matilda estava furiosa, e o fato de seu meio-irmão Robert de Gloucester reunir-se com Stephen agravou sua ira.  

Este período da história Inglesa é chamado de A Anarquia. Ela se retirou do cenário político inglês permanecendo na França. Mas a Imperatriz poderia estar curvada, mas não quebrada.

Desde que Stephen havia sido ungido rei, Matilda apelou à intervenção do Papa. Entretanto, os advogados/conselheiros do novo rei afirmavam que Matilda era ilegítima desde que sua mãe havia sido criada em um convento e professava desejo de ser freira.

Era um argumento um pouco sem contexto, mas o Papa acatou. Não haveria ajuda para Matilda a partir da igreja.

Seu tio, o Rei David de Escócia , invadiu a Inglaterra várias vezes. Sua ex-madrasta Adeliza também estava sempre à espreita.

Por dois anos, Geoffrey travou uma guerra para proteger Normandia, que sempre fora um espinho para a coroa inglesa.

Isso durou até o ano de 1138, em que depois de oito anos Matilda finalmente pôs os pés na Inglaterra. Seu meio-irmão Robert de Gloucester agora mudou de lado, acusando Stephen de tentar matá-lo. 

No ano de 1141 forças de Matilda haviam derrotado e capturado Stephen na Batalha de Lincoln. Por outro lado, seu aliado conde Robert de Gloucester, fora feito prisioneiro no “Tumulto de Winchester” enquanto a protegia.

Há diversas histórias que contam que ela fugiu do local deitada em um caixão, com furos para respirar, sendo assim carregada através de todo o país, escondida do povo, amava Stephen. Isso lembra uma cena de guerra dos tronos, quando Tyrion viaja por Winterfell dentro de uma caixa de madeira.

Entretanto, parece mais uma história escrita por apoiadores do rei, sem maiores evidências. Ele, agora um prisioneiro, fora deposto.

Quando a nova rainha chegou em Londres, a cidade estava pronta para acolher e apoiar sua coroação. Era o seu momento de triunfo, mas pouco durará. Se ela tinha a coroa ao seu alcance, então o que deu errado?

Por coincidência, Rainha de Stephen, também chamada Matilda, que implorou para a Imperatriz a libertação de seu marido, mas foi recusada.

Em resposta, ela conseguiu formar um exército para colocar o antigo Rei de volta ao trono.

 A cidade de Londres pediu para a Imperatriz reduzir pela metade os seus impostos. Ela se recusou , precisavam de dinheiro para a guerra. Mas isso não teve uma boa repercussão para o povo.

Aparentemente eles esperavam que ela governasse com mais compaixão que seu marido. Por causa de suas ações, a cidade de Londres fechou seus portões para seu exército e a guerra civil foi recomeçada em junho de 1141.

Em novembro, Stephen estava livre, foi trocado por Robert de Gloucester e este então fora partiu para a Normandia buscar o filho pequeno de Matilda, Henrique, que na época tinha dez anos de idade, deixando-a no Castelo de Oxford.

Mas logo após sua saída, Stephen trouxe seu exército e cercou o Castelo,  impedindo a passagem de alimentos. 

A comida acabou, mas Matilda estava determinada a não cair nas mãos de seu inimigo. Era um inverno rigoroso; os rios estavam congelados, a neve estava espessa.

Aqui vai outra história contada na época: uma certa noite, a Imperatriz e três de seus cavaleiros vestiam-se todos de branco, e foram, durante uma madrugada, um a um deixando o castelo através de cordas nas paredes.

Ninguém os viu na neve, pois a cor branca os confundia. Eles atravessaram o rio sobre o gelo, andaram uma grande parte da noite, e finalmente chegaram a Abingdon, onde cavaleiros estavam esperando por eles.

Em seguida, rumaram até Wallingford, onde Matilda encontrou seu herdeiro. Não houve muito mais luta depois disso. Stephen manteve toda a parte oriental do reino, e Henrique foi criado em Gloucester até seu pai se despedir dele antes de ir em uma cruzada, em que faleceu.  

Em 1148, Matilda finalmente voltou à Normandia após a morte de Robert de Gloucester. Lá, ela permaneceu em Rouen de 1167 até sua morte na idade de 65 anos.

Depois de fazer guerra por uma década pelo seu direito de usar a coroa, Matilda teve de se contentar com seu filho mais velho, Henrique, tendo direito à sucessão ao trono após a morte de seu primo Stephen em 1153.

Um acordo fazia o filho de Matilda o herdeiro do rei, ao invés do próprio filho de Stephen. E assim iniciou-se a dinastia Plantageneta, a partir de seus descendentes.

Mas mesmo na suposta derrota, Matilda triunfou. Ela era a principal confidente e conselheira de seu filho, Henrique II até sua morte.

Seu reinado causou evidência não apenas pelo tumulto mas pela sua posição. Através dele, Matilda foi a primeira mulher em quatrocentos anos a reivindicar o país com o título de rainha reinante da Inglaterra.

No seu túmulo, está escrito: “grande por nascimento, maior por casamento e ainda mais grandiosa por maternidade: aqui jaz Matilda, filha, esposa, e mãe de Henriques.”

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