Leitura de História

Os vikings não usavam chifre na Cabeça

Quando pensamos nos vikings, a imagem de guerreiros ferozes com elmos adornados por imponentes chifres muitas vezes vem à mente. Essa visão, porém, está mais enraizada em mitos populares do que em fatos históricos. 

No artigo de hoje, vamos explorar a verdadeira indumentária dos guerreiros nórdicos e entender de onde surgiu a ideia dos capacetes com chifres, separando a realidade histórica das representações culturais equivocadas.

Muito provavelmente os elmos e capacetes que os vikings usavam em não é o que você está acostumado a ver em histórias em quadrinhos ou filmes antigos.

A visão moderna dos vikings, amplamente influenciada pela cultura pop e pela arte europeia do século XIX, diverge bastante do que as evidências históricas sugerem. Ao contrário do que é retratado em filmes e quadrinhos, como nas aventuras cômicas de “Hagar, o Terrível”, os elmos com chifres nunca foram parte da indumentária dos guerreiros nórdicos. Esse mito surgiu e se consolidou através de uma série de mal-entendidos culturais, reforçados por elementos do romantismo nacionalista.

Como na história de Hagar o terrível, onde os guerreiros usavam elmos com chifres na cabeça.

A origem dessa representação pode ser rastreada até 1820, quando uma ilustração da obra literária A Saga de Frithiof trouxe guerreiros suecos usando capacetes com chifres. Contudo, acredita-se que essa imagem tenha sido mais influenciada pela cultura germânica do que pela nórdica. A ligação entre capacetes com chifres e vikings foi, em grande parte, uma invenção posterior, baseada em tradições visuais que não pertenciam necessariamente aos povos escandinavos da Era Viking.

A ilustração do livro A Saga de Frithiof, traz os guerreiros suecos usando capacetes com chifres. Mais acredita-se que esse tenha se baseado em elementos da cultura germânica e não nórdica

Outro marco importante na perpetuação dessa ideia errônea veio em 1876, quando o figurinista Carl Emil Doepler, ao desenhar os trajes para a ópera Der Ring des Nibelungen, de Richard Wagner, criou uma imagem icônica de vikings com capacetes adornados por chifres. Essa escolha artística, embora inovadora para o teatro da época, distorce a percepção popular dos vikings, que passaram a ver os guerreiros nórdicos sob essa ótica fantasiosa.

Porque essa ideia se popularizou.

Essa estética foi amplamente adotada, especialmente no contexto do nacionalismo alemão no final do século XIX. Na época, a mitologia nórdica tornou-se uma alternativa mais apelativa ao modelo greco-romano de heroísmo, ajudando a solidificar uma identidade cultural para o recém-unificado estado germânico.

O resgate da mitologia nórdica, misturada com elementos das tribos germânicas, formou a base para um novo senso de nacionalismo, e os elmos com chifres tornaram-se um símbolo visual dessa identidade. A popularização dessa imagem não estava, de fato, enraizada em uma tradição viking, mas sim em um processo de construção cultural e ideológica

Teóricos apontam que essa imagem do viking com chifre na cabeça se popularizou devido ao nacionalismo alemão. Pois a mitologia nórdica era uma alternativa mais popular ao padrão Greco romano de heroísmo.

Isso ajudou a criar uma identidade nacional, no então recém unificado estado germânico. A criação da identidade nacional germânica mescla elementos da cultura nórdico e das tribos germânicas.

Essa formação étnica se iniciou, no período de migração em torno do ano 375 a 568 d.C., quando os nórdicos adentraram a planície teutônica.

Apesar disso, existem diversas tribos que utilizavam elmos com chifres, são tribos como os celtas e os samurais. Acredita-se que as tribos germânicas também o utilizavam, mas não os vikings.

Então, como era o capacete dos vikings?

Entretanto, os guerreiros nórdicos da Era Viking (aproximadamente entre os séculos VIII e XI) preferiam uma abordagem mais prática em suas vestimentas de batalha. Poucas evidências arqueológicas sobrevivem dessa época, e os nórdicos não tinham o hábito de documentar sua história de forma visual ou escrita, o que dificulta uma compreensão completa de suas práticas militares. Existem apenas cinco capacetes viking intactos conhecidos, o restante é composto por fragmentos.

Evidências sugerem que os vikings prefeririam algo mais prático, para ser utilizado em batalha. Infelizmente existem poucos achados arqueológicos e os nórdicos não faziam representações visuais de sua história, tão pouco tinham escrito.

Existem apenas cinco capacetes intactos, o resto é fragmento.

O mais completo e estudado dos capacetes vikings é o capacete Gjermundbu, encontrado no sul da Noruega, em 1943. Feito de ferro, este capacete possuía uma viseira fixa, oferecendo proteção para o rosto, e é possível que tivesse uma cota de malha no pescoço para proteção adicional. Esse achado sugere que os capacetes vikings eram projetados com a função de defesa em mente, ao invés de ornamentação ou intimidação visual. A robustez e a praticidade do capacete Gjermundbu apontam para uma preferência dos vikings por equipamentos que oferecessem vantagem em combate, em vez de um apelo estético ou cerimonial.

Essa peça é feita de ferro e possui uma viseira fixa para oferecer proteção ao rosto. Acredita-se que pode ter tido uma cota de malha no pescoço, porque a cota de malha fazia parte da indumentária nórdica em situações posteriores.

Contudo, a escassez de capacetes encontrados pode indicar que a maioria dos vikings lutava sem nenhum tipo de proteção na cabeça. Isso se deve a alguns fatores. Em primeiro lugar, a aquisição de armamento e indumentária apropriados era dispendiosa, e muitas vezes acessível apenas à elite guerreira. Um capacete de ferro, por exemplo, não seria facilmente obtido pelo viking comum, que provavelmente usava o que estivesse disponível ou acessível. Em segundo lugar, o peso de um capacete poderia prejudicar a mobilidade e a agilidade no campo de batalha, um fator crucial em batalhas rápidas e ferozes que eram comuns entre os vikings.

O capacete ideal para o Viking Comum.

O fato de existirem poucos capacetes encontrados, sugere que a maioria dos nórdicos lutavam sem nada na cabeça. Uma possibilidade é o fato de a indumentária ser de difícil aquisição para o cidadão comum, ficando restrita a elite dos guerreiros. Outra possibilidade é o fato do capacete ser pesado e atrapalhar a batalha.

É importante notar que, embora os vikings não tenham usado capacetes com chifres, outras culturas o fizeram. Tribos celtas, por exemplo, usavam ocasionalmente elmos com adornos que poderiam incluir chifres. Na Ásia, alguns guerreiros samurais também usavam capacetes ornamentais, embora não fossem de uso comum em situações de combate direto. É possível que tribos germânicas antigas, com quem os vikings mantinham contatos esporádicos, tenham influenciado essas representações culturais.

O que fica claro é que o mito dos capacetes com chifres é exatamente isso: um mito. A imagem que temos hoje dos vikings, projetada por produções culturais ao longo dos séculos, está longe da realidade vivida por esses povos nórdicos. Eles eram, sem dúvida, guerreiros formidáveis, navegadores habilidosos e exploradores audazes, mas sua indumentária era puramente funcional. O verdadeiro viking entrava em combate com a mente afiada, uma espada em mãos e, na maioria das vezes, sem os famosos chifres que a cultura popular insistiu em lhes atribuir.