Carl Friedrich Philipp von Martius, nascido em 17 de abril de 1794, em Erlangen, na Baviera, é uma figura fundamental na história das ciências naturais, especialmente no que tange ao Brasil. Médico, botânico, antropólogo e pesquisador de renome, von Martius dedicou sua vida ao estudo das riquezas naturais e culturais do Brasil, com ênfase especial na Amazônia. Discípulo da taxonomia de Lineu, Martius é lembrado por suas contribuições inestimáveis à botânica, etnografia e história do Brasil.
Sua trajetória, marcada por uma fascinante expedição ao Brasil e por obras que ainda hoje são referência, reflete o espírito científico do século XIX e seu impacto duradouro na compreensão do nosso país.
Carl Friedrich Philipp von Martius, foi um médico, botânico, antropólogo e um importante pesquisador alemão que estudou o Brasil, especialmente a região da Amazônia. Foi também um dos seguidores da taxonomia de Lineu.
Carl Friedrich Philipp von Martius nasceu na cidade bávara de Erlangen em 17 de abril de 1794.
Foi filho de um farmacêutico, tanto é que sua escolha profissional foi totalmente influenciada pelo tipo de trabalho do pai, e por posteriormente decidiu estudar medicina.
Em 1814 finaliza o curso com a apresentação de um trabalho de doutorado sobre um estudo de botânica. Nessa mesma época era amigo do cientista e zoólogo Johann Baptist von Spix, que possibilitou a entrada de von Martius na Real Academia de Ciências de Munique.
A viagem ao Brasil de von Martius
Carl von Martius chegou ao Brasil acompanhando a comitiva da grã-duquesa austríaca Leopoldina, que viajava para o Brasil para casar-se com Dom Pedro I.
Acompanhado do cientista Johann Baptiste von Spix , recebeu da Academia de Ciências da Baviera o encargo de pesquisar as províncias mais importantes do Brasil e formar coleções botânicas, zoológicas e mineralógicas, apesar da posição de outros naturalistas, que consideravam a viagem perigosa.
Auxiliados por nativos e tropeiros, partiu do Rio de Janeiro em dezembro de 1817 rumo ao norte do país, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e pela Bahia.
Ao chegarem em Salvador em novembro do ano seguinte, despacham o material zoobotânico, até então coletado, e iniciam nova etapa da jornada. Nos quatro meses seguintes concluíram a travessia dos inóspitos sertões de Pernambuco, Piauí e Maranhão.
Após percorrerem milhares de quilômetros, sob chuvas torrenciais, seca, sede, calor e doenças, passam alguns meses em São Luís recuperando-se do grande desgaste psicológico e físico.
O mês de julho de 1819 foi marcado pelo início da exploração da bacia do Amazonas que durou aproximadamente oito meses. Seguiram o rio Amazonas até alcançarem a atual fronteira com a Colômbia.
Devido a doença do cientista Johann von Spix, o retorno da expedição foi antecipado e em 1820 retornaram à Alemanha.
O Retorno a Alemanha de von Martius
Após retornar de sua jornada ao Brasil se torna membro e secretário vitalício da Academia e ocupa também o cargo de conservador do Jardim Botânico de Munique. Além de professor de botânica na Universidade de Munique, Carl von Martius participa de várias sociedades científicas, dentre elas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Em 1854, o rei Maximilian II introduz o projeto de um “palácio de vidro” no Jardim, causando grande revolta em von Martius que abdica do cargo de conservador.
Carl Friedrich von Martius morreu em 1868 aos 74 anos em Munique no dia 13 de dezembro deixando esposa e filhos.
Classificação de regiões fitogeográficas do Brasil elaborada por Carl Friedrich.
Napéias;
Naiades;
Oréades;
Dríades;
Hamadríades.
Conclusão da viagem ao Brasil.
Seis anos depois da chegada à Alemanha, Spix faleceu por uma doença tropical contraída durante a expedição no Brasil.
O livro “Reise in Brasilien “, composto por três volumes, foi publicado entre os anos de 1823 e 1831. Ele contém desenhos, estampas e mapas revelando informações interessantes do Brasil.
Os desenhos feitos por Martius e Spix não só retratam a fauna e a flora, mas também as paisagens, o cotidiano do país e a viagem realizada pelos dois cientistas.
A Flora Brasiliensis foi a obra de maior importância feita por Martius, tinha o objetivo de documentar e sistematizar todas as espécies de plantas brasileiras estudadas e também sua utilização medicinal, comercial e econômica.
Carl von Martius não presenciou a conclusão de sua obra que fora sintetizada em 40 volumes, contendo mais de 22.000 espécies de plantas. Após sua morte, cientistas de outras nacionalidades ajudaram a concluir a obra que foi finalizada em 66 anos.
Outros estudos de von Martius
Suas observações não se restringiram à botânica, suas obras contêm diversas pesquisas sobre etnografia, folclore brasileiro e estudos das línguas indígenas.
Por exemplo, o Lundu instrumental recolhido por Von Martius em sua viagem ao Brasil entre 1817 e 1820, publicado como anexo do livro “Viagem pelo Brasil”, de Spix e Martius. É o registro musical mais antigo que se conhece do lundu.
A obra Viagem pelo Brasil descreve detalhadamente os costumes e características de diferentes tribos brasileiras, também descrevendo as línguas usadas por cada tribo. Martius faz uma tentativa de classificar as diferentes tribos, demonstrando sua visão etnocentrista, colocando os índios em uma posição inferior à do homem europeu.
As opiniões de Von Martius e os preconceitos nelas encontrados são fruto do século XIX, uma época na qual ideias de eugenia predominavam no mundo civilizado. Desde o período colonial, é possível encontrar escritos que foram chamados de ´histórias do Brasil´, tais como relatos de administradores, missionários e viajantes que registraram os fatos ocorridos e observações sobre a vida e os costumes dos habitantes do Brasil entre os séculos XVI ao XVIII.
Todavia, a preocupação com uma história que tomasse a ideia de um passado nacional é engendrada de maneira pontual com o surgimento político do Brasil independente. A partir da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), cerca de sete anos antes da data da monografia, é que se percebe mais claramente a preocupação por parte da elite letrada e política com o projeto de formular uma história do Brasil. Mas somente na década seguinte é que se acentuam as questões referentes à formulação de uma história pátria. Em um momento em que a elite dirigente buscava consolidar o Estado imperial, todas as questões relativas à história do Brasil seriam cruciais para traçar a forma de se contá-la e a forma como os brasileiros se veriam a si próprios.
Para buscar as respostas a essas inúmeras questões, o secretário do referido Instituto, Januário da Cunha Barbosa, propôs uma premiação para quem respondesse sobre qual o melhor sistema para escrever a História do Brasil. O ganhador do concurso foi von Martius, em contato com a voga da disciplina histórica na Europa, particularmente na Alemanha e propôs uma história do Brasil que fosse ao mesmo tempo “filosófica” e “pragmática”, tendo como eixo a formação de seu povo, incluindo nesta formação a “mescla das raças”.
A monografia de von Martius “Como se deve escrever a história do Brasil” aparece inserida numa preocupação com uma história que tomasse a ideia de um passado nacional, comum a todos os “brasileiros”, que teve início com o surgimento político do Brasil independente. Sua contribuição foi tão importante para o conhecimento da flora brasileira, que von Martius foi homenageado como um nome de rua, no bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro.
Primeira página do diário pessoal de Carl von Martius
Com sua pesquisa, Von Martius inaugura uma linha de pensamento que descreve a formação da identidade nacional brasileira, a partir da junção das três diferentes “raças” e os fatores naturais. Essa linha de pensamento influenciou muitos historiadores do século XIX e também a produção literária da época que se voltava aos cenários descritos pela viagem de Martius e Spix em romances e poesias.
Ainda não há muito tempo era opinião geralmente adotada que os indígenas da América eram homens diretamente emanados da mão do Criador. (…) Enfeitado com as cores de uma filantropia e filosofia enganadora, consideravam este estado como primitivo do homem: procuravam explicá-lo, e dele derivaram os mais singulares princípios para o Direito Público, a Religião e a História. Investigações mais aprofundadas, porém, provaram ao homem desprevenido que aqui não se trata do estado primitivo do homem, e que pelo contrário o triste e penível (sic) quadro que nos oferece o atual indígena brasileiro, não é senão o residuum de uma muito antiga, posto que perdida história.
Obras de von Martius
“Brasiliana da Biblioteca Nacional”, Rio de Janeiro, 2001.
MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von – “Flora brasiliensis”, Stuttgartiae et Tubinga: Sumptibus, J. G. Cottae, 1829.
MARTIUS, Carl F. Ph. von – “A Fisionomia do Reino Vegetal no Brasil”, Arquivos do Museu Paraense, v. 3, 1943.
MARTIUS, C. F. von – Como se deve escrever a História do Brasil, publicado com O Estado de Direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/EDUSP, 1982.
MARTIUS, C. F. von – “Natureza, Doenças, Medicina e Remédios dos Índios Brasileiros” (1844) Tradução e notas: Pirajá da Silva SP, Companhia Editora Nacional, INL/MEC, Brasiliana, 1979
Para ver ilustrações e textos originais consulte a Flora Brasiliensis revisitada.
Carl Friedrich Philipp von Martius foi um pioneiro em muitos campos do conhecimento, e seu trabalho no Brasil deixou um legado duradouro. Suas observações e pesquisas forneceram as bases para o estudo sistemático da flora e das culturas indígenas brasileiras, ao mesmo tempo em que sua visão histórica ajudou a moldar a compreensão da identidade nacional do país. Seu nome é reverenciado tanto no Brasil quanto na Alemanha, e sua contribuição à ciência e à história continua a ser lembrada e estudada até os dias de hoje.